segunda-feira, maio 31, 2010

o rio

saí de casa cedo queria espreitá-la de novo no rio banhando-se ignorando a minha presença. coloquei-me de novo acocorado entre os dois troncos mais grossos da árvore do costume. e esperei. os pardais já tinham reinventado a luz, e as cores compunham com a água a sinfonia. o ar corria com finas partículas, possivelmente uma mistura de penas vindas dos ninhos, pólen dos pinheiros e pó suspenso da terra. reflectiam a luz do sol em mil. devo ter ficado uns minutos perdido nestas imagens, sem notar que a tudo isto assistiam gigantes montanhas, cobertas de neve nos picos, como grandes mães ancestrais. reverenciei-as com o olhar e admirei-as com inigualável emoção. Há quanto tempo ali estariam, esperando como eu que ela viesse banhar-se no rio? Teriam gelado à espera, ou fingido ser gélidas para se furtarem à sua atenção? Teria de aguardar como elas, imóvel e silencioso, prestando a eterna saudação à Natureza. As árvores balançavam os seus cabelos delicados ao vento, sussurrando que a paciência é uma virtude. mas os rumores da vida que se apressava em acordar, contradiziam-nos. e todos os bichinhos corriam de uma toca para outra, de um charco para outro mas nunca saiam dalí. nunca passavam a viver sempre no ar como a poeira e as penas dos ninhos. as folhas continuavam a suspirar como velhinhos que já viram tanto e já sabem tudo, e que nunca são ouvidos pelos jovens ouriços cacheiros, que só querem reboliço.
depois de uma pequena pausa enquanto saía da estação do metro, voltei.
e pensei... que todos os pensamentos estão certos, certos como o rio. que passa sempre e não espera. e inevitavelmente apareceu ela...escorrendo devagarinho o vestido molhado pelo corpo abaixo.