domingo, agosto 07, 2005

Uma praça, uma casa, uma asa
Na claridade, luz alva se introduz
Um roseiral, um rubro aroma floral
Sangra a brancura da varanda que seduz

Algures entre o que sonho, sinto e vejo
Nasce o batimento a mais de um beijo
Explosões de pétalas encarnadas
Demoram línguas em batalhas desejadas
Ao calor de corpos tomados pela Lua

Brilham fogos breves
Recolhem-se almas, homens não se mostram
Em cada corpo uma urna se insinua
Há um peso de enterrar quando os corações se afastam mas os braços se enroscam
Praça, casa, asa, cova
Na escuridão da noite que cava
A secura dum roseiral toma
Um defunto aroma mortal
Amaldiçoa a mentira encenada nos peitos
Envergonha-se da oca entrega carnal,
Cravada em tantas peles e leitos

07/08/05
Ana Pena

quinta-feira, agosto 04, 2005

Tudo nos meus olhos pede para voltares

Tudo nos meus olhos pede para voltares
Tudo nas tardes que passo a espiar-te quando sais do trabalho
Pede para voltares
Tudo nos telefonemas anónimos que te faço
Pede para voltares
Tudo nas lembranças que choro encostada às paredes
Implora para voltares
Tudo nos dias em que te escrevo cartas de amor que não entrego
Implora para voltares
Tudo na nossa música que cantavas à noite quando eu estava cansada
Implora para voltares
Tudo nos programas que gostavas e que passo a vida a ver
Pede para voltares
Tudo nas almofadas do sofá ainda com o teu cheiro
Pede para voltares
Tudo nas camisas que deixaste no armário e que eu acarinho
Pede para voltares
Tudo na nossa cama fria implora que a aqueças de novo
Tudo o que deixaste vazio na nossa casa implora o teu regresso

Tudo o que um dia me disseste, me pronunciaste ao ouvido
Faz-me pedir: Volta
Faz-me implorar: Volta
Faz-me precisar: Volta

Ana Pena

A imaginação é uma coisa perigosa

A imaginação é uma coisa perigosa.

Sabes o que é a auto-destruição?
É fazer conscientemente aquilo que não se quer fazer.

A minha boca é uma fonte cheia de areia, de pó, de nada
A palavra morre seca à nascença,
Ressequida pelo vento de todo e qualquer pensamento,
Pouco a pouco o deserto instalou-se na minha pensão degradada
Já vai ocupando todos os quartos rapidamente
Como um furacão enfurecido e esfomeado.
Pouco a pouco sinto o corpo maltratado a rodopiar no corredor da pensão,
Olho para todas as portas, todos os quartos engoliram escuridão
Um abismo de baratas forra um poço fundo
De onde só jorra areia, pó, nada
Posso chorar a minha falta de palavras esmagada
por uma fardo tão pesado de sentimentos?
Terei mãos para agir pensamentos e necessidades que não
tenho sequer coragem e força para falar?
Os quartos da pensão, poços escuros, olham-me
Magnetos chamando o meu desespero aprisionado
Num corpo chicoteado de sonhos.
O sol vê-se da pensão, comprovo duramente que existe
Mas não pode olhar para mim
Há um círculo demoníaco a expulsar anjos
De todos os quartos do meu ser

Como poço profundo, que não diz palavras, cospe só areia e nada, e sonha em agir e ter coragem de se exaurir e nascer de novo todos os dias em que acorda com vontade de cair no poço, como hoje.




Ana Pena (num dia1a beka mau...embora os dias maus sejam os de maior aprendizagem...e por isso em certa parte, bons)
2/8/05