Cerejas e framboesas

Cerejeiras, pessegueiros, abrunheiros, pereiras, laranjeiras, framboesas.
Framboesas. Eu nunca tinha provado framboesas, assim acabadas de colher, maduras. E são tão doces e saborosas como nunca as tinha pensado ou provado.
De cerejas roubadas, pequenas e negras, doces, enchi a barriga. Fartei-me até não querer mais em poucos minutos, para bem do papo dos pássaros e do dono. Vi uma popa que trazia uma no bico e pousou num pinheiro a descansar ou observar (ou a fazer-se à fotografia?). Sei que tinha ninho alí perto, devia estar na hora de alimentar a prole. Ouvi um tentilhão, no meio dos melros. É prova indiscutível de que estamos no campo quando conseguimos ouvir os pássaros na sua actividade matinal, por cima de qualquer outro som. Vi duas rolas cinzentas, e uma toda branca, debicando no meio de uma terra lavrada.
No outro dia o meu tio apontou-me uma cerejeira de meter água na boca. Cerejas vermelhas e brilhantes, grandes, que ao longe pareciam pêssegos. Para meu mal estavam no topo da copa, tão distantes quanto o meu desejo de apanhá-las. As cerejas que roubara do vizinho no dia anterior tinham-me aberto o apetite para roubar mais, mas maiores. E esta tinha as cerejas perfeitas, claro, perfeitas porque não chegava para apanhá-las.