quarta-feira, maio 20, 2009
Bley, Paul
Quando entrámos já ele estava em palco, vestido de preto, sentado a um piano preto, num palco preto. A única luz vinha da sua cabeça coberta por cabelos brancos, do reflexo dos seus óculos e das suas mãos claras perto do teclado. Tirou o relógio, preto, e colocou-o dentro do piano. Depressa compreendi porquê tanto preto pontuado por luminosos sinais - as suas mãos pensando as teclas, prestes a criar uma constelação na noite.
Lendário pianista do jazz, Paul Bley é um dos músicos que maior número de estrelas do jazz acompanhou, ou dos quais se viu acompanhado. O meu reduzido conhecimento jazzístico tinha-me impedido até ontem de alguma vez o ter ouvido, contudo, felizmente, o meu excitado interesse e gosto por jazz, fez-me "irresistir" a comparecer a este concerto.
Foi ontem, numa Culturgest de casa cheia, que Paul Bley encantou. Capaz de saídas originais e modernas, a sua música mantém-se profundamente harmoniosa e melódica, como poucos são capazes. Foi assim, entre delicadas carícias ou poderosas investidas no teclado, que Bley nos levou, adornada por percussões, prodigiosas escalas e camadas, frases vibrantes ao ritmo do blues e do bebop, pela sua música de indescritível beleza e emotividade, com o poder, contudo, de derivar-nos desde o mais agudo lamento à mais grave melancolia. Logo de início que o Grande Auditório se transformou, com a presença de Bley, num local mais perto da perfeição. No final o prenúncio cumpriu-se e o mundo foi perfeito, ao som da música derradeira.
De pé foi aplaudido reverentemente, por toda a plateia.
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