terça-feira, agosto 25, 2009

Retrato e preto e branco

e amarelo.

Ela era miudinha como uma margarida pequenina, das que crescem no meio da erva depois da chuva. Era magra, morena, baixinha. Os olhos eram redondos e castanhos, as sobrancelhas carregadas. As mãos pequenas, braços e pernas fininhas. Era miudinha, pronto. Miudinha de miúda, das duas maneiras, de pequena e de gaiata. Tinha um sorriso aberto, de menina feliz. Era esse o seu maior trunfo, o seu brilho, todos lhe diziam. Mas pensando bem poderia até ser mau, pois se por um acaso (às vezes acontece) não estivesse a sorrir, seria feia? Talvez fosse. Não o posso saber, pois nunca a vejo como os outros. Agora que penso nisso, então a miúda miudinha teria de estar sempre a rir, para se sentir bonita. Seria?
Bom, eu perco-me sempre em divagações ... adiante.
Ela tinha um sorriso bonito mas não era apenas isso que a caracterizava. Tinha energia, alegria e boa-disposição para espalhar pelos quatro cantos do barraco! às vezes tinha tanta que era um exagero e passava por egocêntrica! Imaginem, egocêntrica? infâmia!
E o que ela gostava de conversar, ui se ela gostava de conversar!
Mas era simples. Um senhor muito esperto, com muitos anos de negócio e experiência disse-lhe uma vez: "Fiquei satisfeito por te conhecer porque tu não tens vaidade nenhuma nenhuma".
Ela era assim. Tinha uns olhinhos que só queriam ver ver, ver muitas coisas, mas com calma. E uns ouvidos que queriam aprender muitas coisas diferentes. E um coração, igual ao de todas as outras pessoas no mundo.

Ah...é claro que eu não podia acabar de descrevê-la de forma sentimentalista e demasiado humilde. Ela achava que era especial, sim. Porque achava que era uma positivista na vida. Via-se a si própria como uma entusiasta. Como uma filósofa meio alucinada, meio consciente, muito certa acerca da inutilidade absoluta da vida, que ela gostava de chamar o motivo para a vida ser o milagre que é. Ela adorava poder pensar e dizer: "Caramba, tenho saúde e família, sou feliz!" Ou então, olhando para as estrelas ou deitada quentinha na cama, perder-se na teoria de que tudo é relativo e por isso enorme e vasto ... tudo é tão relativo como um corpo a flutuar no espaço ...

Há tantas coisas bonitas ainda para conhecer na vida!

1 comentário:

GotchyaYinYang disse...

Indeed. Adorei!