sexta-feira, dezembro 04, 2009

Quando me deitei e finalmente estiquei as costas na cama, senti aquela dor na coluna chamada alívio. De seguida apercebi-me da pressão crescente de um peso, algo como uma tábua pesada e maciça colocada por cima do meu corpo, desde os pés até à cabeça, e onde houvera sido escrita a palavra “Inútil”. Podia ser absurdo, mas o peso do “Inútil” caía-me sobre o corpo e não me deixou dormir por algum tempo.

Enquanto ouvia um piano e uma voz arrastada que o acompanhava, sentia uns pequenos barcos de papel, “drifters”, a deslizar por aquele corpo abaixo, ao longo de “Inútil”, enquanto por dentro a corrente circulava em “roller coaster”.

Quando saí do hospital, passei pela mesma calçada que dava para o jardim e, num gesto que habitualmente repetia, colhi algumas folhas de alfazema e cheirei, cheirei mais uma vez, e outra, mais um bocadinho, isso. Invariavelmente, acabava por sorrir, como uma criança. Guardei as folhas no bolso das calças, no esquerdo. No entanto, lembrei-me, costumava sempre guardá-las no bolso direito. Será que isto significava alguma coisa? (Claro que sim). Claro que não.

1 comentário:

Rute disse...

Consegues ser o doce mais suave que se pode saborear.