“Por favor não leiam isto, por favor não leiam isto”- não cometas esse gesto. Hoje de manhã acordei e fui para o trabalho. Qual é o significado daqueles números escritos dentro do túnel do metro? E aqueles grafittis? Adorava uma noite meter-me no túnel do metro e escrever “com asa de borboleta se construiu a primeira palavra amarela” – Ondjaki. E esperar até que o túnel do metro ficasse completamente amarelo, de cada vez que alguém lesse aquilo. Há coisas mesmo esquisitas. Tudo o que não compreendemos é meio esquisito. Às vezes não nos compreendemos e então ficamos esquisitos. Juntamos A + B e dá Z em vez de C. “Mas pa, temos de de viver com isso mano. Sabes como é.” Ya. Um sonho meu da faculdade era ligar um rádio com montes de tentáculos cujas pontas teriam altifalantes, espalhados pelo tecto do corredor, para as pessoas se calarem e ouvirem música. E estenderem-se no chão, sossegadinhos. E esperar até que o chão ficasse relva e a luz eléctrica passasse a sol. Como vivemos num país democrático também podiam dançar só que aí tínhamos que esperar que o corredor se tornasse num bar de praia, numa noite de Verão quente. E abastecer a máquina do café com mojitos e caipiroskas.
É triste o alfabeto não dar para tudo. “Mas pa, temos de de viver com isso mano. Sabes como é.” Ya.
Mas o pior são mesmo os gestos. Porque esses dão até demais. Dão para aquilo que és e o que não és, para o que queres ser ou o que pensam ser. Dá para seres aquilo que não sabes que és e para aquilo que não és mas pensas saber. “Podes crer, mano. Os gestos são mesmo lixados, são mais qás mães”. Ya, esses gajos é que enganam, e bem. “Um gesto é algo que se comete como um crime. E podes até pensar que apagaste as provas todas mas não há crimes perfeitos. Mano.”
1 comentário:
Wow! Pena tu és mesmo brilhante.
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