sábado, março 14, 2009

Se eu tentar calcular o tempo que passo na realidade e o que passo na imaginação, no fim, não sei para que lado penderá a balança. Até porque realidade é sempre aquela coisa difícil de definir. Será perigoso reinventar o mundo e viver no nosso mundo reinventado? Por outro lado, será perigoso andar sempre na sombra (ou à sombra?) dos factos factualíssimos, físicos, onde margem para dúvidas é coisa que não há? Como em tudo, no meio é que está a virtude. Pena é que esta resposta seja daquelas que tapa o buraco, mas não chega. É uma resposta piorzinha do que “O melhor é não pensar, rapariga”.

Há pessoas que são felizes na realidade, porque a aceitam como a coisa mais diversa, caótica e imprevisível de todas, que ela é. As restantes podem ser felizes, mas não vivem na realidade. É tão simples quanto pensar: se a realidade é de todos, então eu não posso ter uma só minha. Logo não posso estar verdadeiramente a viver na realidade enquanto a minha realidade for a objectiva através da qual vejo a dos outros.

Talvez seja impossível olhar para o que quer que seja sem ser através da minha objectiva pessoal, que trás agarrada a si o jeito da minha personalidade, os quadros da minha experiência e os olhos da minha imaginação. Mas se queremos estar um bocadinho mais próximos da realidade não é cá dentro que devemos ficar. Devemos subir para uma montanha, deixar que o ar frio nos lave bem os olhos e limpe a cabeça, e ver lá de cima o que se passa cá em baixo. O panorama geral sobre o teatro. E é natural que nessa altura aquele ser que sempre viveu connosco (e viverá), se torne mais claro e, quiçá, mais leve.

“I usually say fuck truth! … but mainly is truth that fucks you”

2 comentários:

GotchyaYinYang disse...

Pois, no meio está a virtude. Talvez consigamos saborear melhor a vida com uma mescla da nossa realidade e a realidade de "todos"...

Rute disse...

Há que criar o meio termo. Saber saborear a nossa realidade e sabermo-nos inserir na realidade de todos...

Mas nada sabe melhor que a nossa. O perigo é perdermo-nos nela.