domingo, fevereiro 18, 2007

Frio, ou o sonho quente na minha mão

Fosse escuro, fosse noite. Fosse luz, brilhasse o dia. Eu sei bem o que te fazia. Mergulhava a minha mão no teu peito, entrelaçava os meus dedos na tua traqueia e na tua aorta. Aconchegava a minha mão às tuas entranhas, amolecendo-a no calor da tua respiração, da tua corrente de sangue. E vagarosamente puxava, puxava. Puxava. Até arrancar-te. Até esvaíres-te indefeso nos meus braços. Até derreter-se na minha boca o arrepio da posse. O poder de submeter-te ao que quisesse. O poder de ter-te o tanto grande que quero, e não posso.
Assim possuído em minha mão, como um passarinho encurralado, colava a minha traqueia na tua, e a minha aorta ao teu coração.

Estrelinhas. Frias, pálidas, luzindo. Enfeitando como delicadas pérolas o manto do céu. Faróis minúsculos cintilando no preto oceano. Caracolinhos encaracoladinhos brilhando no escurinho.

E a lagriminha descendo sozinha a colina, com sua trouxinha de passado às costas.

3 comentários:

Anónimo disse...

Arranca-me! Até me esvair! E sentir o frio, ou o sonho quente na TUA mão.

Rute disse...

Aptece-me fazer isso tudo a mim mesma! Aiiii!!! sorte vil.

xtr3m disse...

olha, gostei muito..muito bem simbolizado.. muito fixe..nem consigo arranjar um elogio suficientemente bom :)