quarta-feira, setembro 23, 2009

Mas não tem ... é pouco? É tudo.

Pormenor de Dois Sentados no Muro, Juan Muñoz


"As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo"

Ludwig Wittgenstein



"
237. Wittgenstein diz que o que se não pode dizer deve calar-se. Mais tarde tentou emendar a mão, mas para reflectir apenas que a linguagem é um jogo de equívocos, impossibilidade de em geral se não poder ser claro em irredutibilidade. E ainda bem, para ele ter podido dizer o que disse e não ter ficado simplesmente mudo. Compreende-se a ambição de se dizer o que é irredutível à flutuação de sentido, o inequívoco, o que não possibilite uma dúvida sobre o que se quis dizer. Mas além de que isso é impossível para qualquer palavra da língua, além de que uma qualquer palavra, e para lá disso, tem um halo de conotações que varia com o tempo - que é que iríamos fazer do que foge ao rigor, mas existe realmente? Calá-lo? Mas como, se precisamos de o dizer? Se eu estou apaixonado, se tenho «saudades», tédio, sou tocado pelo mistério das coisas, pelo «arrepio» dos «espaços infinitos», porque raio não hei-de falar nisso? Acaso será irredutível a própria linguagem matemática? Que é o 34, perguntava o Alberto Caeiro. Toda a ambição do positivismo lógico - do homem - é ter o destino nas mãos. Mas não tem, nem mesmo numa conta de somar. Só lá cabe essa amibição. É pouco? É tudo."

Vergílio Ferreira
in Pensar (1992)

1 comentário:

Unknown disse...

Vi uma exposição do Juan Muñoz em Madrid: muito bom.