Mulheres

Ali ao fundo, andam homens das obras...trabalham desde cedo, almoçam em conjunto numa mesa de madeira por volta do meio-dia. Trazem marmitas de casa com comida, sopas no termo, sandes embrulhadas em guardanapos. Não têm sítio para lavar as mãos, passam-nas apressadamente por um lenço de papel e pegam nas sandes com restos de cimento entre os dedos. Depois trabalham, uns manejam as máquinas, outros ficam corcundas a calcetar as ruas, e no final, quando se põe o sol, precisam de uns minutos para suportar a dor de ter de se levantar e de se porem na posição recta. Vão embora quando o sol se põe e voltam a casa em carrinhas que os transportam a todos, e os vão buscar de manhã no outro dia às 6.

Quando um destes homens chega a casa, a mulher está na cozinha a fazer o jantar, ele chega e dá um beijo na mulher e diz - Boa noite- e ela - Boa Noite. Senta-se no sofá e fica à espera do jantar pronto. Entretanto a mulher diz-lhe - Porque não vais tomar um banho?- e ele - Doem-me as costas, traz-me aí a pomada - e ela vai e traz-lhe a pomada e também os chinelos. - Dói-te muito?- Hum Hum. Ela volta preocupada para a cozinha, o arroz quase que se queimava. Serve o jantar.Comem. Ela lava a loiça. Depois a mulher prepara a comida para ele comer no dia seguinte. Vai ter com ele à sala e vêm televisão embrulhados numa manta que a mãe dela fez. Depois da novela, vão para o quarto. Ela põe-lhe a pomada nas costas, em silêncio. Deitam-se. Aqueçem os pés um do outro e adormeçem.

Às 6 da manhã a buzina da carrinha ouve-se na rua. Ela não se levanta logo, mas já não consegue dormir. Fica envolta em preocupações na cama." É melhor ir com ele a um médico, aquelas dores nas costas andam a piorar".