quarta-feira, abril 29, 2009

100 anos do ismo do futuro

"Um automóvel que ruge, que parece correr debaixo de fogo, é mais belo do que a Vitória de Samotrácia (...) já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima (...) queremos destruir os museus, as bibilotecas, as academias de toda a espécie (...) queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo."
preconizava o pai do Futurismo à entrada do século passado.

Já não é só o Manelinho,
100
anos de futurismo, fazem-se também em 2009! Futurismo foi o primeiro movimento artístico de vanguarda a estrear-se no séc XX, originalmente enunciado pelo poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944) através da publicação do Manifesto Futurista no jornal francês Le Figaro, em 1909. Essa ideologia de ferro e vertigem, a que uns chamam a "cocaína da Europa" ou o "proto-punk", rejeitava a moralidade e o passado e exaltava as novas invenções, os avanços tecnológicos do séc. XIX, o triunfo da velocidade e da máquina sobre a natureza e o Romantismo, glorificava a revolução, e até mesmo, nos primeiros futuristas, a guerra e a violência.

Filippo Tommaso Marinetti (meio) e outros futuristas (não encontrei a data).

Aqui ficam os princípios enunciados pelo Manifesto Futurista, especial atenção já agora para o ponto 9. e 10.

9. We will glorify war—the world’s only hygiene—militarism, patriotism, the destructive gesture of freedom-bringers, beautiful ideas worth dying for, and scorn for woman.

10. We will destroy the museums, libraries, academies of every kind, will fight moralism, feminism, every opportunistic or utilitarian cowardice.


Giacomo Balla - Dinamism of a Dog on a Leash, 1912

Giacomo Balla - Volo Rondini Grondaia Cielo, 1913




Carlos Carrà - Il cavaliere rosso, 1913
(este Carrà é fantástico, juntamente também com um pintor muito interessante, Giorgio de Chirico, fundaram a Pintura Metafísica, "percursora" do Dadeísmo e do Surrealismo)

Marcel Duchamp - Nude Descending Staircase #2 - 1912


O futurismo manifestou-se essencialmente no seu país berço, a Itália, e também na Rússia, se bem que os artistas das duas nacionalidades, apesar de partilharem os mesmos princípios estéticos, defendessem ideologias diferentes, em particular a nível político. Em Itália, os futuristas simpatizavam com Mussolini e defendiam a guerra e a destruição, ao contrário do futurismo russo. O Futurismo influenciou inúmeros artistas, tais como Marcel Duchamp, e várias correntes vindouras como o cubismo e o construtivismo.

Por terras lusitanas, Santa-Rita Pintor foi dos mais importantes introdutores do futurismo em Portugal. Em Novembro-Dezembro de 1917 Santa-Rita preparou o lançamento da Revista Portugal Futurista, que foi apreendida à porta da tipografia, por subversão e obscenidade de alguns textos. Outros nomes que beberam deste movimento foram o extraordinário Amadeo de Souza-Cardoso e os deslumbrantes Álvaro de Campos e Almada Negreiros.
É curioso que F.T. Marinetti quando visitou o nosso país em 1932, tenha ignorado a produção artística portuguesa, o que, claro e ainda bem, não passou em branco aos artistas da altura. O escritor foi alvo de críticas incisivas feitas por Álvaro de Campos, através do seu poema Marinetti Académico, e de Almada Negreiros, que assim escreveu no Diário de Lisboa : Um ponto no I do Futurismo: Quanto ao admirável e sempre novo criador do futurismo, F.T. Marinetti, lastimamos, nós os futuristas portugueses, a sua amnésia quanto a Portugal, a sua falta de memória acerca do que nomes heróicos do futurismo fizeram aqui nesta terra em guerra contra putrefactos e botas-de-elástico (...) e desejamos-lhe uma feliz viagem de regresso à sua grande pátria, onde o espera o seu lugar bem merecido de académico e fáscio italiano".

Toma lá que já almoçaste :)

Santa-Rita Pintor - Cabeça

muita info retirada da revista Artes&Leilões Março 09

1 comentário:

GotchyaYinYang disse...

Muito bom este texto! E que grande pintores Santa-Rita Pintor e Almada de Negreiros!