Se um amigo me liga para irmos ao cinema, Manoel de Oliveira em mira, Singularidades em mente, se duas horas antes da sessão já não há bilhetes, afinal. Se me despacho aliviada por um imprevisível cedo, e combinamos jantar, sem remorsos centenários de perdermos o autor. Se durante o passeio de metro conheço uma actriz do filme, 70 anos, óculos de aro vermelho, roupa elegante, conversa simples, com medo de estreias, e nos despedimos acenando uma à outra um agradecimento mútuo. É isto uma noite afinal? É isto a Avenida da Liberdade à noite, afinal?
Se nos deixam entrar depois de fechada a porta, e o restaurante nos recebe num sorriso. Se comemos o que há, que já é tanto, e bebemos o que foi, que foi tão bom, e no final se despedem de nós com o beijo lançado pela mão. É isto uma noite, é isto uma noite de um vulgar serão?
Se nos desprendemos pelos caminhos da arte que conhecemos e anseamos conhecer, se os pensamentos vagueiam pelo etéreo que consideramos ser e ter. Se saímos daquele aconchego e continuamos. Com a fluidez das nossas conversas a fazer-nos deslizar pela avenida. Se na viagem de regresso partilhamos os nossos pontos de vista sobre o amor, e toda a miríade de atitudes, automatismos ou emoções complexas e inefáveis que o compõem. Do jogo difícil da atracção. Da Primavera excessiva da paixão. Do lado benigno do amor. Do confiarmo-nos.
E se formos para casa. E se eu ficar satisfeita, mais, contente. Digo, feliz. Feliz. Não regressei, dei mais passos em frente, hoje. E que magia, que milagre se vi mais luz que durante todo o dia.
Foi isto uma noite, afinal?
2 comentários:
Uau!!!! Que noite mágica essa sim senhora. Digna de filme? :)
Ena! Foi sim. Adorei ler as tuas palavras!
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