segunda-feira, janeiro 29, 2007

Microfone de informações do metro, o som ecoa por toda a estação:

- 1..2...experiência, som... som, experiência... (pigarreia para clarear a voz). Bom, então o que nos queria dizer a senhora?

- Errr... eu... (envergonhada) ... eu só queria dizer, quer dizer... era mais pedir ... era... era pedir que... bem.... err.... que me comessem! A modos que peço que todo o homem que se sinta um Hannibal Lecter sexual, faça o favor de se dirigir aqui a isto, ao balcão das informações!Obrigada!

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Chego ao metro, àquela maquinazinha dos bilhetes azul e sem graça. O painel electrónico diz em letras coloridas : "Toque-me" (Porra, roubou-me a ideia!!). Já me imaginava apertando os lábios e projectando-os bem juntinhos pedindo um beijinho. Colocava as mãos nas mamas e apertava-as uma contra a outra, enquanto um fio de baba me escorria pelo queixo. (Acreditando que era uma loba sexy!). Com o espaço reduzido que os lábios espremidos me deixavam, repetia as letras do painel electrónico: Toque-me, Touch me, Touchez moi, Tóqueme.

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Recebo uma sms. Ao responder quero dizer Tenho de deixar de ser tão preguiçosa, mas apercebo-me que escrevi: Tenho de deixar de ser tão perigosa...

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(Eláá, ééé lecas, o que é aquilo?). Elevando-se nas escalas rolantes, emerge uma cara absorvente, cabelo ondulado escuro e quase pelos ombros, cara meio redonda, com um sinal algures perto da boca. Quando lhe vejo o corpo e o andar a legenda que surge por baixo é sem dúvida: "David Fonseca ligeiramente cocho".

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Siempre que te pregunto, que cuándo, cómo y dónde, tú siempre me respondes:
quizás, quizás, quizás...

Y así pasan los días...

(Confessa-me o Nat K.Cole)

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Antes disto tudo, há dias, tive medo quando ouvi o Thom Yorke cantar: Just 'cause you feel it doesn't mean its there...
Mais uma vez o velho comboio cinzento
Rasgou a névoa de horas idas,
Mais uma vez o antigo sentimento
Ressuscitou em brancas cinzas,
O linho dos sonhos recordado
Transluz ao sol depois da chuva,
Encosto fielmente ao parapeito
A minha cara apagada e batida
Cheira a limpo, cheira a terra
Teus fios de cabelo abalam com o vento…

… E eis que o céu se entristece
E se encolhe acanhado com a terra,
Mais forte agora é o mofo ameno
Que sinto esvair assustada da serra
Para sempre, a face mal enterrada
Teus fios de cabelo expiram sem tempo …
E brancos partem na negra galera …
O frágil linho tecido por dentro
Sobrevive num tear humano poeirento
Encostado ao parapeito sem lida
Aprendo a fadiga da vida
E os olhos sós, suspiram, cansados
Brisas que outrora houveram…

…O antigo comboio desfeito em tábuas
Range e vai com a dor, da minha pouca terra
Pouca terra
Pouca terra
de amor…

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Dentro de uma Igreja

- Mãe
- Chiuu
- Mãee
- Chiu!
- Onde tá o Jesus?
- Ali
- Na cúz?
- Sim

A criança tosse, estava constipada... mãe e filho saem, ainda ouço lá fora:

- Já tá?
- Já
- Já tá?
- Já
- Já tá?...
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Passado horas saio da faculdade e sinto-me mergulhada na personagem principal de um filme sinistro.
Sozinha, no escuro, deparo-me unicamente com as luzes que saem de algumas janelas do c8, fitando-me do edifício imponentemente negro, como olhos misteriosos. Ouço a voz rouca e melancólica cantando "Simple Things" enquanto atravesso o frio chão de painéis de cimento. Ao dobrar a esquina encontro o vento cortante e o negro gelado. Não havia luzes. Os candeeiros do caminho que tinha de percorrer estavam todos apagados. Parei. Fiquei segundos a apreciar, segundos a ter medo e segundos a pensar o que faria. (Vou esperar que apareça alguém a sair, para colar-me aos seus passos e sentir-me acompanhada). Ao fundo surge um estudante e eu começo a andar rápido para o apanhar. Desci as esacadas e alcanço a estrada. Por trás estava um carro com os faróis ligados e quis o guião do filme que ele começasse a andar numa marcha mais lenta que a minha, sempre por trás de mim, a iluminar-me gentilemente o caminho em frente. No final da rua decido olhar de novo o meu misterioso benfeitor. Confirmei que era uma rapariga (obrigada!). Agora tinha a longa calçada, presidida pelo museu da cidade, para atravessar. Apesar de um cantinho de medo, eu sentia-me numa bela sala a deliciar-me com uma nova perspectiva sobre aquele caminho de sempre, que eu julgava já não poder trazer-me nenhuma novidade. (Pingo Doce: Onde os preços são mais baixos 20:00, 11ºC). As letras luminosas bem no alto são as únicas estrelas da noite. Nem reparei no susurro bruxo e cúmplice das árvores, mas sei que esteve lá.
Acompanhada somente por homens e rapazes, não me sinto bem nem mal, nem assustada. Até uma pontinha de orgulho. Concerteza algum terá olhado para mim. Caminho sobre a passadeira, passo o túnel, encaro o Bingo, dobro a esquina, entro no espectáculo pirotécnico que é chegar ao metro! Até os olhos me ardem. Todos aqueles flashes de luz!! (Apesar de oposto, eis que também é Belo). Entro no comboio. Enquanto a carruagem foge vejo através da janela os tubos verdes, vermelhos, amarelos a correrem pelo túnel. Reflectido no vidro, numa simbiose sobrenatural entre o escuro de fora e as luzes de dentro, as mãos raiadas de veias salientes (como as adoro!) de um rapaz, a acariciarem-se uma à outra. Tão levemente, tão intensamente.
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- Pena, tu usas estes pensos não é? - diz-me ele apontando a marca "Tena Lady" e estalando em gargalhada.
- Não! Eu uso mais estas fraldas aqui à frente! - retribuí - E tu gaja, o que usas? "Carefree" n é?
- Oh Pena...

Escassos minutos de excursão depois...

- Ahaha, para que é isso? Estes gajos são loucos!
- Isto? Isto são 252 maneiras de te masturbares e isto é...
- Mas aqui está escrito "252 maneiras de ganhar um jogo de xadrez" ...
- Não! Tu é que não sabes ler! E isto é uma foice para te matar e ele trouxe esta caixa para pormos os bocados do corpo dela, quando os cortarmos!
- Ahhhh, ok!! (isto não é normal!)
- E este livro aqui?
- Errr.. ah isto é 1001 maneiras de lavarmos as mãos depois de vos matarmos
- Ahahahah - ri-se o cúmplice maquiavélico, segurando uma grande caixa plástica.
- Ok! Ao menos escolheram uma caixa com tampa cor-de-rosa, obrigada

Escassos segundos de excursão depois ... já na caixa para pagar ...

- Pena, Pena! Pagas-me isto aqui se faz favor?
- Sim, tá bem - respondo reparando que é comida para piriquitos ... ou não? Não, era para..
- É para dar de comida à minha rata!
- Ehehehe! Ahahah! - ri-se o cúmplice maquiavélico novamente

(Isto não é normal! penso eu pela milésima vez, sorrindo:)
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Dia 28, Domingo:
Escrevendo estas palavras no blog, penso...

Como há tantas Igrejas sagradas!

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Duas categorias e tá tudo dito sobre ♂

Ora bem após profunda reflexão cheguei à conclusão que os rapazes, os homens, whatever, caem todos numa de duas categorias:

a) Apaixonam-se pelo físico, procuram-nos porque precisam de apoio ou querem dar uma queca.

b) Apaixonam-se pelo intelecto e pelo que a rapariga, mulher, whatever, é mas depois são uns enconados (peço mil desculpas pela expressão) e não têm iniciativa!

Há umas variantes: uns são a) e querem parecer b) enquanto outros são b) e querem parecer a)!

Ora dadas estas duas categorias, a minha alma gémea ainda está para vir porque eu queria alguém b) que tivesse a pujança de a)! No fundo o que eu queria mesmo era um Pilósofo! Entendam como quiserem...eu cá tenho a minha interpretação!

Onde estão os Pilósofos?

Haverá uma terceira categoria?

Existe em Odivelas, na Fcul, em Portugal, ou terei de ir à Patagónia?

sexta-feira, janeiro 19, 2007

O que é que me vais oferecer no dia 14 de Fevereiro?



Declaro aberto o concurso:

O que é que me vais oferecer no dia 14 de Fevereiro?
As respostas têm sido engraçadas, queridas, ou profundos baldes de água fria!:)
Dêm largas à vossa imaginação e respondam a esta musa! Vencerá a resposta mais original, seleccionada por um extenso comité de júris constituido por mim.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Deus, o que sinceramente penso dele


E venha filosofia
teologia que farte
o que se pense de Deus
é só de Deus uma parte

Dizendo que é só amor
fazes Deus menor que Deus
cercas o ilimitado
dos limites que são teus


Agostinho da Silva

Este foi um dos mais acarinhados filófosos portugueses do século XX. Também poeta e ensaísta, afirmava a liberdade como a mais importante qualidade do Homem.
Obrigado Agostinho da Silva.

Mais quadras de Agostinho da Silva : http://www.arte-sempre.net/wpespiral/?p=40

Biografia: http://www.instituto-camoes.pt/cvc/filosofia/1910h.html

Mal Amada

Chega de mentiras vãs
quando todas as manhãs
acordas ao meu lado...
É que eu já não posso mais
partilhar os rituais
É tudo tão igual

Não me ames por favor
Que eu sou mais feliz
Que viver acorrentada
Foi coisa que eu nunca quis
Mais vale ser mal amada
É o que o coração me diz

Já não sei há quanto tempo
os teus olhos não me vêm
apenas passam por mim
É intenso este vazio
já não sei o que fazer
esta noite o amor partiu
sem sequer adeus dizer

Não me ames por favor
Que eu sou mais feliz
Que viver acorrentada
Foi coisa que eu nunca quis
Mais vale ser mal amada
É o que o coração me diz


Não me ames por favor
Que eu sou mais feliz
Que viver acorrentada
Foi coisa que eu nunca quis
Mais vale ser mal amada
É o que o coração me diz

Mafalda Sachetti


Música sublime!

I'M ON FIRE




God I'M ON FIRE!




quarta-feira, janeiro 17, 2007

Preciso de escrever! AHHHHHHHHHHHHHHHHH! Minto, preciso de gritar! Esta escória da sociedade!! Estes miúdos que não percebem nada, são todos iguais! Clones de merda! E risinhos, e brincadeireinhas, é tão bonito, que bem que eles se dão! Que belo! Se ao menos tivessem um cérebro para ver quem se interessa por eles, escória! Escória da sociedade! Corja! Gentalha! Imbecis!!! Ai que revolta adolescente para aqui vai! Como é possível que o correcto não aconteça? O correcto era ser para mim, não para as outras! Destino amaldiçoado! AHHHHHHHHHHH! Como? Como é possível que um episódio ridículo me deixe a escoucinhar feito uma adolescente num concerto dos D'zrt! Help Me!




Inveja, ciúme, ridículo

São essas as palavras

Sad Clown


terça-feira, janeiro 16, 2007







É uma explosão.




É uma invasão






Que eu evito ver.
Mas que escorre e percorre todos os limites do meu ser.






segunda-feira, janeiro 15, 2007

Hoje vi pessoas!!!

Saio de casa...não me lembro de como desci as escadas mas sei que o barulho das duas habituais voltas com a chave para trancar a porta me feriram levemente os ouvidos. Chego à porta do prédio e a luz resplandece através dos vidros... saio...Como as cores da rua são claras, há quanto tempo as não via e que saudades Deus meu! (momento de plágio do dia). Adoro Luz (e árvores!)mas a luz nos olhos que faz doer, não a luz na cara. Quer dizer gosto da luz na cara desde que não esteja ninguém ao pé de mim. Não olho para a calçada, só para a frente e para cima, para o céu. Atravesso o parque. Quem olha para mim deve ver-me andar aos ziguezagues. A árvore do meio já está tão nua! E tem pintassilgos empoleirados nos seus raminhos. Só agora me apercebo que já é Inverno! Perdi assim tanto tempo? As cores são diferentes, hoje. O céu está baço e lindo, tudo parece uma pintura em sfumato. Gosto de lamber a boca, como a Björk. Não que eu queira ser como a Björk, não tenho motivos para querer ser com a Björk ... porque haveria de querer ser como a Björk? Ora essa, tolice! Gosto de lamber a boca porque já gostava, antes de saber que a Björk também o fazia, claro! (ai, só eu e as paredes é que sabem!...) Chego ao outro lado da rua, não reparo na cara do condutor que parou na passadeira. Desconfio que nem reparei se algum carro parou na passadeira. Agora sim olho a calçada. Deste lado é mais clara, combina com o dia. Novamente as árvores estão nuas. Ah mas aquela não, e mais parece uma floresta de kelp! (Ok, algologia destruiu-me o teco). Tem umas vagenzinhas bordô. Muitas, comparada com as outras nuas. Prossigo embrenhada naquele semi-nevoeiro matinal. O rio. Hoje não é o rio sujo. É quase um rio de águas cristalinas. Quase uma pista de gelo. Como um espelho quieto. Quase posso patinar nele... Pronto, agora aqui à frente já se vê outra vez que é um rio sujo. Ah, chego aquele rés-do-chão. Hoje já está a roupa estendida. Não está lá o preto a estender a roupa cá fora. Ele deve ajudar a mulher, é tão engraçado. Costumo vê-lo de manhã a estender roupa com a particularidade de ele ter de sair de casa para vir estender a roupa na rua! Isso é giro. Se eu vivesse num rés-do-chão talvez já me tivesse apercebido que o Inverno tinha chegado! Passo agora por um caminho de quase todos os dias, de terra e estreito, ladeado por belas ervas rasteiras e cócós de cão (e talvez de humano, para ser correcta). Ah agora vejo a alfazema na borda da rotunda, mas hoje não apanho um bocadinho. A bomba de gasolina ainda não abriu. Ramos Catarino é a empresa encarregada da obra. Claro... o nome Catarino (a) é omnipresente (e potente!). Agora começo a subir a rampa que também é ponte, e o quadro muda um bocado. Há um cheiro esquisito, que deve vir ali do lado esquerdo da lavagem automática de carros. Novamente, o céu. Amplo mas desfocado envolvendo a cidade. Por momentos o nevoeiro parece-me uma pesada poluição. Mas rapidamente o meu idealismo do dia faz esquecer a hipótese. Noto que hoje me esqueci de dar as habituais duas voltas na camisola de gola alta, e dou. As camisolas de gola alta foram feitas para pescoçudos. Vem um homem gordo e com um saco preto sobre o ombro esquerdo (o meu lado esquerdo). Conforme se aproxima constato que é um cigano. Quase perto de mim ele pára, olha do alto da ponte e cospe para o rio lá em baixo. Não fico com muito nojo mas quando olho lá para baixo e vejo a água com aspecto sujo fico um bocado incomodada. Mais à frente no caminho está uma rapariga, da qual não recordo nada. Passo para o outro lado da estrada. Estou num passeio estreito de onde sinto o vento dos carros a passar e do meu lado direito tenho paredes sujas e pretas. Imediatamente à minha frente está uma preta empurrando freneticamente um carrinho de bebé. Ela não tem praticamente cabelo, está muito muito curtinho, mas mesmo assim vê-se que é carapinha. Traz umas calças brancas que estalam naquele cenário sujo e escuro. Por baixo tem umas cuecas ou vermelhas ou rosa, não percebo muito bem, mas que se notam perfeitamente por baixo das calças. Fico quase enconstada a ela a olhar para o rabo a ver se percebo de que cor é que são afinal as cuecas. Apercebo-me que é melhor tirar dali os olhos porque pareceria estranho às pessoas que vêm na direcção oposta. Iam ver um bébé num carrinho, atrás uma senhora a empurrá-lo e atrás dela uma miúda a avaliar-lhe o rabo. Não era uma quadro muito bonito. Continuo e só quando chego perto da entrada do metro, ao pé das cascas de laranja, é que penso, vou pôr isto no blog. Como é habitual há senhora a vender botinhas de criança e camisolas de gola alta à entrada do metro. Hoje não está lá a que vende as botas, ontem lembrei-me dela e achei que devia ter comprado um par que lá estava a semana passada. Entro na estação e compro um bilhete de ida e volta. Faço parte dos 5% de pessoas que sobem as escadas do metro a pé. Vejo uma senhora de terceira idade (este nome é feio) quase a a terminar a subida, no topo das escadas. A minha experiência a subir escadas de metro diz-me que dos 5% talvez a maioria sejam velhinhos que sobem as escadas do metro a pé. Isso é bonito! Sento-me à espera. Passa uma senhora baixa mas com botas altas e aspecto seguro, mas reparo que tem uma estranha mancha na narina esquerda (a dela e a minha). Porque é que há gajos que usam as calças apertadinhas? Para se ver o cú? Aquilo até os deve magoar. Gosto mais dos que usam calças largas as calças apertadas no rabo não ficam bem... ah pera, mas àquele ficam...hum nice! Ah é pena fumar!... O metro chegou. Entro. A senhora que subiu as escadas senta-se. Eu fico de pé perto dela. Quando for mais velha quero ser assim, continuar a subir escadas com a força dela, usar batôn e pôr-me arranjadinha como ela. Cheira pum, que mal! Não fui eu, a sério! Se calhar até foi a velhinha! Ponho-me a tentar fazer a ridícula estatística de quantos africanos existem na carruagem, mas desisto. Numa paragem qualquer entra um rapaz enigmático. O cabelo é bom de mau e tem a cara gira. Vêm colocar-se estranhamente perto de mim. Eu até gosto, sinto-me mais ou menos aconchegada. Ele cheira...cheira...ao Eduardo. Epá ele faz-me lembrar o Eduardo, é isso, o Eduardo. Ah mas desta vez não o vou deixar fugir (ou vou?) Epá que cheiro, é mesmo o Eduardo! Que momento bizarro. Sinto-me ligeiramente desconfortável porque está demasiado próximo, ou então sou eu a fazer filmes porque está muita luz no metro para eu estar perto de alguém. De qualquer das maneiras se vivesse no planeta Marte era bem capaz de me deixar descair como quem não quer a coisa para os braços dele e ficar naquela bizarria hipnotizante. Saio do metro e imagino que ele possa ter olhado para o meu rabo, ficando desiludido (:D). E logo hoje que estou tão encolhida! As escadas rolantes deste lado estão em manutenção. Dou a volta e dirijo-me para as outras escadas. Quase bato numa senhora. Mais uma vez declaro para mim própria que o metro é um local lindo para uma filmagem, cheio de poesia feita de imagens. Muitas vezes imagino que alguém dentro do metro em andamento olha para mim na estação e me deseja. E fica assim a olhar para mim e a ir embora. E eu sinto-me especial! Sim, definitivamente o metro é um local cheio de perspectivas fantásticas. Saio para a rua. Com sempre uma rapariga distribui uns papéis laranja à saída. Atravesso a passadeira, o cabrão do taxista quase parece que me vai atropelar. Vejo uns miúdos ao fundo, com as malas às costas, parece que estão a fazer um comício, que giros! Dobro a esquina e penso que só tenho estado atenta a pessoas e que não pode ser. Tento observar outras coisas. Ok, do lado esquerdo tenho o bingo do Sporting, por isso não. Em cima passa a 2ª circular, que tem a sua beleza mas não hoje particularmente... Ah, o semáforo verde, fixe! Passam agora dois corredores de calças bem justinhas men, de licra!Epá mas estas ficam mesmo muita bem! O atleta preto olha para mim, há uma fracção de segundo em que o tempo parece que pára... ai tinha cá umas pernas ... mesmo de atleta, com músculos definidos....hum...! Ok, com isto desisto de dedicar atenção a coisas.Prefiro observar pessoas, afinal ultimamente só me tenho visto a mim e a seres com os quais tenho consaguinidade (excepto a namorada do meu irmão e os meus piriquitos). Preciso de pessoas, sozinhos não somos ninguém. Pronto, e com o deslumbramento pelos atletas o semáforo fechou e agora tenho de esperar. Ultimamente tenho o hábito de não ficar parada à espera que o semáforo abra. Começo andar às voltas para trás e para a frente e gosto de ver a cara das pessoas, alguns com aquele olhar "o que tu queres sei eu!" e eu imagino-me a responder : " pois é, queria umas massagens!" Entro agora na parte que mais gosto dos meus dias de faculdade, ou seja na parte que mais gosto da maioria dos meus dias: árvores. Do lado esquerdo e direito: árvores! Árvores dentro do Museu da Cidade, árvores em frente ao Museu da Cidade, àrvores no jardim do Museu da Cidade, àrvores entre o Museu da Cidade e o jardim do Campo Grande, àrvores no jardim do Campo Grande, àrvores em frente à estátua do Peixoto. Àrvores a fazerem sexo como sol. Inicio, depois do êxtase com as árvores, o belo do pisoteio das gramíneas do relvado do C8. Faço corta mato porque como adverte um amigo de uma amiga minha a hipotenusa é menor que a soma dos catetos. Atravesso a faculdade em direcção ao c2. Dentro do c1 caio na realidade e começo a ficar nervosa com aquilo que até aqui tinha evitado pensar. Se o prof de Algologia chegou antes de mim, saberá que estou a entregar o exame depois do prazo e pode anular este conjunto de papéis que tão "sofridamente" me custaram a escrever (e que me privaram tantas horas de ver pessoas!) Aproximo-me da porta de abertura automática do c2. Quem será que vou encontrar? Amigos? Quais? (e o professor Pena, e se encontras o professor?...) Ok, estou no topo do corredor, os correios dos profs ficam lá ao fundo. Ao longe vejo um homem --> o professor? - Não. Vê-se logo pelo rabo ... e pelas costas!:). Chego à caixa do correio, o nervosismo acelerou ... AH! O prof ainda não tinha vindo buscar os exames! Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Safei-me!!!!! :) Sou a pessoa mais feliz do mundo!!! Ok, sem exageros a mais feliz de Odivelas! Err... do meu prédio? Andar?.... Não interessa! Fico com um sorriso na cara a puxar para a gargalhada e apetece-me dar um pulo! e dou por dentro, se calhar até dei por fora e nem me apercebi! Dirijo-me para a sala de computadores e começo a escrever esta verborreia mental! Já estou nisto há duas horas e nunca pensei que ainda tinha cabeça para o fazer!
Para acabar em beleza, o meu leitor de mp3 não teria as pilhas gastas e eu podia ir para casa a ouvir Radiohead e Nat King Cole.
:)

sexta-feira, janeiro 12, 2007


Porque é que se eu não gostar de cães e crianças, tenho mau coração?

Gosto de árvores, mas ninguém me diz que sou boa rapariga por isso! Mas se fizer uma festinha a um cão ou disser : "oh, que bonita criança" já sou uma gaja sensível e carinhosa, que vai ser uma boa mãe!

Pois bem há dias em que não gosto de cães nem de crianças! Tou farta de ouvir todos os dias o bebé da minha vizinha a berrar e de ver cães a receberem mais festinhas do que eu!
Em contrapartida idolatro árvores, árvores, árvores, porque não chateiam, calam e ouvem. São sempre reconfortantes e transformam o lugar mais cinzento no mais resplandecente. Nunca me criticam, nunca me acusam. Como a sua resposta é o silêncio, admito que me compreendem e isso enche. São os seres vivos mais pacientes que conheço, e isso é uma qualidade fundamental para lidar comigo...
Qualquer dia passo a já não saber falar com pessoas, porque já só quero falar com árvores!

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Hoje chegou um embrulho com tudo
Vi e ceguei,
Porque já nada mais há para ver

O significado é esse
Nunca conseguir ver tudo
Para continuar a querer
Sofremos porque não sabemos
Vencemos porque continuamos

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Deus!!!!!! Ah.....

Deus nasceu um dia daqui a muitos anos
Reza a história que lhe ouvi contar
Todas as noites chamo Deus para dentro
Todas as manhãs ele sai para vadiar
Parece que na sua imensidão se perdeu
E saiu da terrena órbita infernal
Consta que decidiu pousar para um anúncio
De uma mui respeitada estância termal
Lá para os lados da Cassiopeia,
Aquela que saiu com o Apolo
E apareceu de barriga cheia!
Aproveitou para uma massagem e um chá com vista para o céu
Mas recusou a volta de boleia.
É que um Buraco Negro vinha a caminho
E ofereceu-lhe o lugar do lado
Mas Deus deu logo a piada babosa “Deixe estar!
Para buracos já me chega o do Orçamento de Estado!”
Deus é a maior e mais importante entidade
Fez o amor e os passarinhos, as flores e os coisinhos
E tudo aquilo que ao pensar me faz ter vontade
De chamar o Gregório para apreciarmos juntos a beleza
Ele é grande, Ele é fashion (não usa suspensórios) e sabe sentar-se à mesa
Concerteza! Desde que não sejam treze Deus come tudo e não deixa nada
Ficou traumatizado porque aos treze lhe comeram a namorada!

Ah, hoje pedi a Deus que a Guida não visse isto!

sábado, janeiro 06, 2007

Eu queria emigrar para um país cheio de árvores


Eu queria viajar para um sítio com palmeiras e água quente.
Sentir nos pés a areia do descanso e no cabelo a ausência de pensamento.
Partir porque isso significava deixar para trás os Invernos e a lama
Chegar a um destino ensolarado pleno de florestas virgens
Perfumar o meu corpo de ramagens e vestir-me de árvore ao pôr-do-sol.
Eu queria ir para esse mundo onde o medo não me afronta
Onde o amor vence desde o dia que raia à noite que acorda.
Queria ver rapazes amarem raparigas
A calma apaziguar os corpos e o suspiro leve do vento embalar os corações.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Faço de tudo. Abro e fecho a página do google 200 vezes por minuto, passeio entre os blogues, escrevo coisas estúpidas no meu blog, verifico 200 vezes por minuto como correm os downloads, vou 200 vezes aos sites porno (que diga-se perderam toda a originalidade), finjo 200 vezes por minuto que tenho de repetidamente rectificar o hotmail porque espero um mail urgente, ligo o rádio e danço durante uma hora (fogo, passou rápido) porque afinal preciso de relaxar antes de começar, convenço-me 200 vezes por minuto que amanhã vou iniciar o estudo e fico com um sorriso de satisfação. E o pior é que acredito mesmo. Já não sei o que fazer. Ah a minha mãe teria uma resposta pronta: "Limpa o pó, passa a ferro, apanha a roupa, limpa a casa, sê uma menina como eu vejo tantas!" E ela tem razão, mas eu sou uma preguiçosa. Também há-de haver outras tantas como eu, ora! A verdade é que eu não posso dizer que não vou fazer estes exames para limpar o pó e lavar a casa-de-banho porque se pudesse fazia isso!
Basicamente estou empalhada. Levanto-me, faço xixi, e coloco-me de molho em fermol (perdão, álcool, que fermol é cancerígeno) em frente ao pc. E que bela vidinha. Levanto-me para comer e passo pelo wc, afinal já tou há 5 horas a tentar dialogar com o logótipo do google e tenho necessidades para fazer.
Aiiiiiiiiiiiiii

Mariposas!

Aí vinha ela aproximando-se moribunda, voando como se tremesse. Ela aí vinha, a mariposa. Antecipei a suavidade do encontro, acreditei que era hoje, era hoje que eu ouvia o que ela tinha para me dizer.

Não sou paranóica, nunca lhes liguei muito, não sou daquelas miúdas que coloca borboletas e lacinhos em tudo quanto é sítio. Isso até me dá um certo enjoo cor-de-rosinha. Mas desde este Verão que olho as borboletas de outra forma. Elas vêm ter comigo. Corrijo: elas vêm contra mim, não passam por baixo, nem por cima, nem de lado. Vêm contra mim.
Ok, podia ser das cores berrantes que às vezes uso, afinal há quem me chame escandalosa. Mas mesmo quando estava tão sombriazinha elas vinham como balas delicadas.
Cogitei (uau) a possibilidade do meu cheiro as atrair e entontecer (por ser muito bom) e isso podia explicar aquele voo trémulo desenhando os suspiros do vento. Mas essa hipótese foi logo posta de parte, porque me apeteceu.
Então percebi. As mariposas têm algo para me dizer. Elas passam, suavemente, parece que o tempo pára quando elas roçam, quase ouço. Quase ouço ... Eu sei. Elas têm algo para me dizer mas não percebo se elas passam demasiado rápido, se eu não ouço bem, se elas são tímidas, se eu é que sou demasiado tímida para acreditar. A verdade é que eu sei, porque sinto, elas têm algo para me dizer.
De cada vez que elas vinham comecei a desviar-me, não fossem as pobres desfazer-se embora eu desconfie que elas até iam gostar. Parecia que vinham entregar-se de livre vontade à morte (não gosto de falar disto, fico logo com uma lágrima no canto do olho).
Bom, hoje pensei que era desta, que aquela mariposazinha ia demorar-se um pouco mais, vinha tão entornada, meio inclinada. Ali estava aquele ser fantástico, sobrenatural, destinado a entregar-me a mensagem preciosa que iria ajudar-me a perceber tudo o que existe. Aproximou-se e aquele momento foi quase um orgasmo...ela ia dizer-me o que todas as outras houveram tentado! Bateu-me, quase caí do passeio. Desviei-me, e ela demorou-se colada a mim, pegada, quase ronronando por um miminho ... Eu estava no auge durante aqueles intermináveis segundos onde pura e simplesmente não foi emitida qualquer mensagem. Passou, já estava atrás de mim, eu já estava atrás dela, esquecida de novo. Ah... aquela cabra! Com aquele porte tão frágil, aquela corzinha débil, ali a bater-me como a querer acordar-me, a querer atingir-me, a querer chamar-me. Cabra, e não me diz nada. E eu a pensar que as borboletas são seres superiores, enviados dos céus, para me darem um sinal qualquer. Hei-de estrangular-vos, torturar-vos até sair daí essa conversa! Retirar lentamente cada asinha, cada patinha, cada antenazinha!
Até lá quem sofre a tortura sou eu, só penso nisto, o quem terão elas para me dizer? Decidi que o assunto era urgente e de extrema importância e que a época de exames podia esperar perante esta situação. Vou descobrir este mistério, e este semestre fica para segundo plano. Falei com os meus pais, disse: "Pais, as borboletas têm algo para me dizer, vou esquecer a época de exames e dedicar-me a este assunto"
Eles responderam: "Ok"
Parece-me bem.
'Por muito tempo achei
que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,aconchegada
nos meus braços, que rio e danço
e invento exclamações alegres,
porque a ausência,
essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim'.

Carlos Drummond de Andrade


Epá um dos meus poemas preferidos de sempre. Coisa mai linda!

... pela Inquisição

Eu não implorei nada, mas esperei. E esperar tem a violência do estar sem ter, a brutalidade da falta oferecida de presente. Obrigada. Eu não pedi, mas esperei mudamente e nunca veio nada em resposta ao meu silêncio. É claro. Compreendo. Eu não tentei, não corri, não andei. Mas esperei. Pensava que para viajar bastava sentir como dizia o Alberto Caeiro. Acabas de desafiar o Fernando. Espero que ele te venha assombrar nestas noites em que eu continuo à espera. Nestas noites em que pensar incomoda como andar à chuva. E pensar em ti incomoda como ser queimada em praça pública pela Inquisição. Sinto-me acusada de ser. Uma imensa culpa do que sou.

Ah, obrigada.

Poema de Inverno

Veio de longe, e mal chegou
partiu para mais longe ainda:
só o tempo justo para fazer
das águas dormentes do meu trôpego
coração
um rumor de sílabas matinais.

Como toda a gente que partilha
com a luz a sua vida
era muito inocente, trazia do local
onde nascera
o ardor das coisas do mar.

Não sei de alegria tão pura
como a que morava nas molhadas
pedras dos seus olhos,
e baila ainda nas chamas
em qualquer lugar da casa.

Ao fim da tarde, o canto
do pequeno pássaro e o vento diziam
a mesma coisa: não deixes o incêndio
do deserto invadir-te o coração.
Sem que tu o suspeites, sequer.

Eugénio de Andrade in Os Sulcos da Sede

Retirei este poema de um blog que visitei recentemente ...
Agarrou-me especialmente a última estrofe como se estivesse a ler o que estava escrito dentro de mim. Não quero deixar que o incêndio do deserto invada o meu coração, sem que eu o suspeite sequer.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Dançar na promiscuidade da incerteza

Pensar faz mal, pensam alguns:) ……

Meditar no sentido disto, da vida, talvez não faça sentido nenhum, talvez faça todo o sentido. A verdade é que ela não existe. Tudo é um grande não saber, um grande talvez, uma grande hipótese. Quem sabe tudo o que sabemos são apenas hipóteses à verdadeira realidade que na realidade não conhecemos. Pensar nisto é embarcar numa dança sem passos ensaiados, sem destino, onde as surpresas surgem na expressão do nosso corpo. Num Universo tão promíscuo de dúvidas, de interrogações, de inquietações, ter certezas pode ser uma fortaleza ou uma fraqueza. Se não virmos um propósito em tudo isto, a vida perde o valor e nós perdemos a vontade nela. No entanto, o nosso propósito pode ser não haver propósito nenhum e isso pode enlouquecer-nos … ou pacificar-nos.
As incertezas podem assustar-nos ou simplesmente libertar-nos.
E eu adoro dançar.