Veio de longe, e mal chegou
partiu para mais longe ainda:
só o tempo justo para fazer
das águas dormentes do meu trôpego
coração
um rumor de sílabas matinais.
Como toda a gente que partilha
com a luz a sua vida
era muito inocente, trazia do local
onde nascera
o ardor das coisas do mar.
Não sei de alegria tão pura
como a que morava nas molhadas
pedras dos seus olhos,
e baila ainda nas chamas
em qualquer lugar da casa.
Ao fim da tarde, o canto
do pequeno pássaro e o vento diziam
a mesma coisa: não deixes o incêndio
do deserto invadir-te o coração.
Sem que tu o suspeites, sequer.
Eugénio de Andrade in Os Sulcos da Sede
Retirei este poema de um blog que visitei recentemente ...
Agarrou-me especialmente a última estrofe como se estivesse a ler o que estava escrito dentro de mim. Não quero deixar que o incêndio do deserto invada o meu coração, sem que eu o suspeite sequer.
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