sexta-feira, janeiro 05, 2007

Mariposas!

Aí vinha ela aproximando-se moribunda, voando como se tremesse. Ela aí vinha, a mariposa. Antecipei a suavidade do encontro, acreditei que era hoje, era hoje que eu ouvia o que ela tinha para me dizer.

Não sou paranóica, nunca lhes liguei muito, não sou daquelas miúdas que coloca borboletas e lacinhos em tudo quanto é sítio. Isso até me dá um certo enjoo cor-de-rosinha. Mas desde este Verão que olho as borboletas de outra forma. Elas vêm ter comigo. Corrijo: elas vêm contra mim, não passam por baixo, nem por cima, nem de lado. Vêm contra mim.
Ok, podia ser das cores berrantes que às vezes uso, afinal há quem me chame escandalosa. Mas mesmo quando estava tão sombriazinha elas vinham como balas delicadas.
Cogitei (uau) a possibilidade do meu cheiro as atrair e entontecer (por ser muito bom) e isso podia explicar aquele voo trémulo desenhando os suspiros do vento. Mas essa hipótese foi logo posta de parte, porque me apeteceu.
Então percebi. As mariposas têm algo para me dizer. Elas passam, suavemente, parece que o tempo pára quando elas roçam, quase ouço. Quase ouço ... Eu sei. Elas têm algo para me dizer mas não percebo se elas passam demasiado rápido, se eu não ouço bem, se elas são tímidas, se eu é que sou demasiado tímida para acreditar. A verdade é que eu sei, porque sinto, elas têm algo para me dizer.
De cada vez que elas vinham comecei a desviar-me, não fossem as pobres desfazer-se embora eu desconfie que elas até iam gostar. Parecia que vinham entregar-se de livre vontade à morte (não gosto de falar disto, fico logo com uma lágrima no canto do olho).
Bom, hoje pensei que era desta, que aquela mariposazinha ia demorar-se um pouco mais, vinha tão entornada, meio inclinada. Ali estava aquele ser fantástico, sobrenatural, destinado a entregar-me a mensagem preciosa que iria ajudar-me a perceber tudo o que existe. Aproximou-se e aquele momento foi quase um orgasmo...ela ia dizer-me o que todas as outras houveram tentado! Bateu-me, quase caí do passeio. Desviei-me, e ela demorou-se colada a mim, pegada, quase ronronando por um miminho ... Eu estava no auge durante aqueles intermináveis segundos onde pura e simplesmente não foi emitida qualquer mensagem. Passou, já estava atrás de mim, eu já estava atrás dela, esquecida de novo. Ah... aquela cabra! Com aquele porte tão frágil, aquela corzinha débil, ali a bater-me como a querer acordar-me, a querer atingir-me, a querer chamar-me. Cabra, e não me diz nada. E eu a pensar que as borboletas são seres superiores, enviados dos céus, para me darem um sinal qualquer. Hei-de estrangular-vos, torturar-vos até sair daí essa conversa! Retirar lentamente cada asinha, cada patinha, cada antenazinha!
Até lá quem sofre a tortura sou eu, só penso nisto, o quem terão elas para me dizer? Decidi que o assunto era urgente e de extrema importância e que a época de exames podia esperar perante esta situação. Vou descobrir este mistério, e este semestre fica para segundo plano. Falei com os meus pais, disse: "Pais, as borboletas têm algo para me dizer, vou esquecer a época de exames e dedicar-me a este assunto"
Eles responderam: "Ok"
Parece-me bem.

1 comentário:

Tiago disse...

lol! Ok, tou mm a ver... pais, olhem não vou estudar ok? Ok, filha, vai lá despedaçar as borboletas... Realmente tu! És um ser macabro! Vais matar as pobres coitadas, tortura-las! a sério que até me deu uma dor só de te imaginar a fazer essas coisas! Torturar é mau! Porque não lhes pedes que te digam o tal segredo em vez de as andares a matar? Ai ai!