segunda-feira, novembro 12, 2007
Outros conversam acerca das árvores de fruto que têm no quintal
Outros perguntam-se porque será que estão sozinhos,
Enquanto vêem dançar os casais contentes pelo baile.
Eu já não me emociono quando olho para as estrelas
São um facto, não uma história que eu gostarei de contar aos meus filhos
Já tudo é simples e simplesmente
Porque esta chuva de meteoritos sem cor nem ruído
Porque este silêncio como resposta
Porque este peso, como se carregasse o fundo de um oceano
Porque esta viagem de dor até à Ilha
De cabelos e olhos castanhos
E mãos pequenas com o meu nome.
Já não tem fim, porque lhe perdi o começo.
E a única solução é cortar o fio
E desfazer toda a malha.
segunda-feira, outubro 29, 2007
domingo, outubro 21, 2007
domingo, outubro 14, 2007
domingo, setembro 02, 2007
Mountain Gorillas relax in the forest
Gosto de esfregar o meu narizinho nos meus braços, e deixar o cabelo escorrer pela minha cara. Gosto de esfregar o meu narizinho no teu peito e fechar os olhos com prazer. Gosto de abraçar-me e de abraçar-te. Gosto de sentir o teu calorzinho ao pé das minhas bochechas e de estender-me sem preocupações, contigo a meu lado. Sempre com o meu corpo perto do teu.
Soulmates
Gorilas da Montanha
Estes gorilas da montanha foram filmados no Parque National de Virunga, na República do Congo. Estes ternurentos meninos/as pertencem à família de gorilas Ruguendo! A http://www.wildlifedirect.org/ partilha o dia-a-dia da vida selvagem protegida em África, pela voz das próprias pessoas que estão envolvidas nessa nobre tarefa. Através do site podem fazer-se donativos, que tenho a certeza serão bem canalizados, por tudo aquilo que li.
Infelizmente já só existem 700 gorilas da montanha em todo o mundo! Estes programas são por isso essenciais para manter a vida selvagem no planeta! É terrível saber que ultimamente este parque tem sido vítima de ataques por parte de rebeldes e traficantes que matam os gorilas. A situação tem vindo a agravar-se e incidente na semana passada um dos guardas foi assassinado e outra pessoa ficou gravemente ferida! É triste e revoltante ver tal acontecer. Pelos animaais e pelas pessoas que carinhosamente os protegem, merecendo homenagem, não actos bárbaros.
Fiquei enternecida por estes gorilas no vídeo. São animais que mantém entre si uma ligação amiga e aconchegante, calorosa, por vezes rara de ver nos próprios humanos! São seres que parecem muito pacíficos e meigos com pessoas, é difícil não nos rendermos!
Recentemente houve uma notícia muito feliz! Nasceu um novo rebento entre os gorilas da montanha! A mãe, Bilali, parece ser exemplar com o seu bebé! Muito protectora e carinhosa, dá gosto ver! A cria, essa ... é um amor!:)
sábado, agosto 11, 2007
Incrível!
www.boreme.com/boreme/funny-2007/battle-at-kruger-p1.php?emf=1
terça-feira, julho 17, 2007
Zeina w Nahoul
:)
Indo eu a passear pelo Youtube, numa pesquisa que envolvia cantores egípcios e dança do ventre eis que encontro esta versão libanesa da ABELHA MAIA :D
E agora pensa quem vê isto : "yahh o q é q isso tem?"
Pois é! O que tem é que em libanês a abelha maia chama-se ANA PENA! LOLOLO
Percam 50 segundos e ouçam estam preciosidade :D eu sempre soube que eu e a abelha maia...tinhamos mais coisas em comum do que parecia à primeira vista! Por exemplo andamos sempre a saltar de poiso em poiso à procura do pólen perfeito... e depois ficamos melancólicas... ainnn
segunda-feira, julho 16, 2007
sexta-feira, julho 13, 2007
terça-feira, junho 26, 2007
É inevitável olhos de luz
É inevitável pele em chama
Quero-te pássaro vivo
Quero-te desatinado.
Impensável cabelos de vento
Cheiro dependente
Lupa nua
Beijo quente
Tua.
Campo incêndio
Manifesta claridade
Defeito perfeito
Vontade, à vontade
Líquido elemento
Halucinogéneo
Unguento.
Bolha amarga
Doce carnal
Ofereço-me
Fatal entrega.
Quero-te
Impossível seduz-me.
segunda-feira, junho 25, 2007
Música da semana
He said come wander with me, Love
Come wander with me
Away from this sad world
Come wander with me
He came from the sunset
He came from the sea
He came from my sorrow
And can love only me
How extremely lazy of me ...
Just perfect ....
"Come Wander with Me" is an episode of the American television anthology series The Twilight Zone (1959 - 1964). The "Come Wander With Me" song, composed by Jeff Alexander and sung by Bonnie Beecher herself, was performed in this episode (May 22, 1964).
Sôr Dr. Mariano Gago
Um altíssimo Obrigado Sôr Doutor!
P.S. - 50 euros - inscrição em mestrados e em doutoramentos = letras escritas numa folha de papel.
sábado, junho 09, 2007
Não, ou então
Sim
Sim, não sei
Rede, circulada na maré
Malha de tojo espiculado
Marinheiro
Mareante
Cargueiro de sonos salgados,
Onde andam as focas?
Onde ficou preso o meu queixo?
Rebrilham azuis de teus olhos
Magoados, não choram mas doem
Vejo-te por dentro afora
Adentro-me na esfera boleada
Baça de cansaço.
E espero
Mas a calçada humedece
Arrepios expectantes nos meus ossos
Não choras, dói mais ainda
Entristece a palavra
Como as focas faltam ao mar.
Ah cargueiro acossado
A rede prende-te em mil
Átomos sub-sobre-sentimentais
Teus mil olhos são vitrais
Que o sol nasceu despedaçando
Nos seus tons multi-plurais.
O tinir das máculas aflitas
Fendem as horas nos ponteiros.
Cortam-se as notas desiguais
E os timbres desinteiros
Vem à água
Venha à água
Toda a doçura
Dos açucares incertos
Reflicta o céu todo este acaso
Cabal, onde me acendo
Onde me fico.
Quando um dia eu lá chegar
Puxa-me
E faz-me ver tudo de uma vez.
quinta-feira, junho 07, 2007
Gostava de ...
a água suspirou.
O sonho é espuma, ainda,
o sal ainda água que evapora.
E ela suspira, eu gostava ...
Sopra, sopra, sopra, sopra!
onde mora?
numa casa de branco
que nunca a maré levou...
gostava de ...
a água inspirou.
Quero todas as criaturas retalhadas!
Quero todas as algas asfixiadas!
Quero o sol enterrado no azul profundo
Quero uma boca sem fim
uma boca sem fim
Quero ver o fundo!
Quero, quero, quero!
Quero estar no fim.
Possuir-me grotesco o mundo!
Encherem-me de pedras por aqui!
Ser abusada de tudo
Esvaziada de tudo
E depois violada por mim
violada por mim.
Quero que uma vaga
rompa pelos meus ramos sanguíneos,
e regenere cada espaço vazio
com que nasci
Que a minha boca cresça colada à garganta
para que eu não guarde palavras na barriga.
Quero um vómito
que me perpetue da morte.
E finalmente branca, nua
fragmentada
Ser o absoluto nada
Ser o absoluto nada.
sábado, junho 02, 2007
O poder das músicas, de facto, é místico. Porque uma música depois de ser feita é feita muitas vezes. É feita de novo em cada ouvido que a escuta, em cada garganta que a repete, em cada coração que dela se invade. Cada pessoa toca a mesma música a diferentes notas, em diversas pautas de significados. Depois do músico a criar, a música já não é dele, nem de ninguém, mas um património de cada realidade e imaginário humanos.
sábado, maio 26, 2007
Shiuu
Uhhh How lovely that is, how excitedly colorful and emotional...
Uhhh How many butterflies and bugs
Uhhh Metallizing all this light warm in my tongue
Uhhh How many flavours of the sun, shaping the rainbow in my eyes
Uhhh I can feel it ... I can feel it ...
And after all I don't even like you more than anyone else.
It's a good day.
terça-feira, maio 22, 2007
quinta-feira, maio 17, 2007
O mundo pode oferecer-nos
a mais bela taça de fruta
o mais requintado banquete
Se não tiver aquela laranja
aquele morango,
aquele bago de uva
Que tanto desejamos
Podem encher-nos com tudo
Que nunca, nunca
nos saciamos
"Ainda que eu fale
a língua dos homens e dos anjos;
ainda que eu tenha
o dom de profetizar e tenha fé
a ponto de mover montanhas,
se não tiver amor, nada serei"
São Paulo
segunda-feira, maio 14, 2007
terça-feira, maio 08, 2007
segunda-feira, abril 30, 2007
Expurgação
Entre as pestanas.
Orvalho
Luz do dia
Treme o nervo a cada folha,
A cutícula escorre e humedece.
Excitada pelo orgasmo nascimento
Arrepiam-me os frios da luz quente manhã
E o vento sopra os grãos de areia
A minha alma antiga.
Da água ergue-se o meu esqueleto
crescido por árvores e ramos e terra
Varre a areia antiga
Lava o vento estéril
Não gosto de dedicatórias
Mas gosto de as fazer.
Porque adoro-te hoje
E amanhã não importas nada.
Qualquer pessoa que sejas.
Toda a gente.
Ela disse que eles eram os meus maiores amigos
mas o touro dentro de mim faz-me perder o controlo.
Amigos às vezes amo-os, outras detesto-os.
Varre a areia antiga
Lava o vento estéril
Falta qualquer coisa.
Deixa-me ser má quando sou má
e boa quando sou boa.
Deixa-me ser livre e verdadeira
Quando sou tua.
quarta-feira, abril 25, 2007
Rio aqui vou euuuuu
"Somos o Frank e a Kamila. Moramos em Brasília mas estamos nos mudando pra o Rio de Janeiro dentro de alguns meses. Ele tem 37 , ela tem 20 anos - ela é bi e juntos procuramos um amor a três pra vivermos juntos no Rio. Já pensou em se estabelecer no Rio ? Bom se quiser nos conhecer e se tiver algum interesse em vir ao Rio pra passeio ou qualquer outro objetivo, ou se quiser aceitar nosso convite de amizade ou casamento, gostaríamos de poder ter a honra de te conhecer. Beijosssss...
luizfrank100@hotmail.com
kamilaaunica2@hotmail.com
61 84488036"
Fiquei muito contente e feliz em saber que já me pedem em casamento do outro lado do oceano!:)Epá finalmente encontrei a alma gémea e com o bónus de vir a duplicar!
Aqui ficam as fotos dos meus dois amores:
Segundo o hi5 esta é a "Kamila my heart"
P.S. - Epá só há um problema!Não sei como é que vou explicar isto aos meus pais....
domingo, abril 22, 2007
domingo, abril 15, 2007
Para aquelas gargantas desgrenhadas
E aqueles olhos a berrar
Pensava na planície deserta
Lá
de onde vim
Sempre fui introvertida
Mas cantava muito
E ria
E entregava-me no palco
"about the way you walk
and whisper and look..."
Ela
era uma mulher entre as outras
Como todas
Mas para ela
Era diferente
Era tantas
Talvez já tenha
descoberto
como deitar fora
as coisas pretas
e feias
cantando-as
elas saem
a música acaba
Quando eu sou minha
segunda-feira, abril 02, 2007
Que me pinta amanhã olhos inchados
Saboreio o trapo na língua do vinho
vida,
desgastada.
Não fumes na cama
Não fumes na rua, ou no chão.
Hoje fui acordada por um monstro encharcado
Em lama
Engrossando rios
De olhos muito abertos e despertos,
Pingando sempre.
A demência da morte é talhar forçada em nossa dor
A boca impossível do Adeus.
Primeiro entrei na cozinha em camisa.
Abri a gaveta, escutei a janela … atenta.
Tirei a faca,
passei os dedos
Ásperos pela toalha.
Cortei o pão depressa
deitei no branco leve a cabeça
E pensei em rosas e no cheiro que elas não têm
Quando eu as penso, só.
Fechei os olhos,
a minha realidade é sempre a mesma embriagada.
Os lagos a luz as garças, são brancos são braços são barcas,
Chamando desconhecidos.
sexta-feira, março 30, 2007
What the fuck?
Você é "O sétimo selo" de Ingmar Bergman. Você é intelectual, preocupado com ocultismos. E além de tudo é um mistério!!
Faça você também Que
bom filme é você? Uma criação de O
Mundo Insano da Abyssinia
segunda-feira, março 12, 2007
( V ) A Entrada do Templo.
A Vagina é a Entrada do Templo.
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
Troquei Paula Rego por cervejas e linguados
Este quadro é da famosa pintora portuguesa Paula Rego. Insere-se na sua fase de criação "Dog Woman":) Hoje comprei os 3 volumes em promoção na Fnac da sua obra gráfica completa! Fiquei com uma forte curiosidade de conhecer mais pintores portugueses como o Amadeo de Souza-Cardoso e o Mário Cesariny ou a Vieira da Silva.
No ar pairou uma frase de mestre: "Epá os rapazes que eu gosto não me protegem, não me oferecem segurança, são coninhas! Os que eu não gosto querem-me comer (leia-se fo em vez de com)... epá e eu ... "Tá bem!"
domingo, fevereiro 18, 2007
Grândola
Árvores. Passando como folhas em comboios. Focando os troncos desfocados. Nítidas como pedras recortadas, bordando a terra de grinaldas.
E eu sacrificada nos sobreiros. Retorcida, agonizada, sangrando os troncos de pele descarnada. Grossos nus, incandescentes, o sol avermelhando. E por fim com crueldade, cortada nos veios, a cortiça guarda o meu corpo enrugado.
A praia. Mar verde, areia molhada. O cheiro da língua salgada. O céu. Ferindo a luz dos olhos, desvelando todos os recantos do prazer. Os meus pêlos sentindo os grãos de vento moderado. O meu cérebro descendo as pálpebras. O calor subindo-me as pernas, desferindo-me moleza no peito. E tudo o que fica é o mais precioso nada como areia dispersada Ah, A praia.
Frio, ou o sonho quente na minha mão
Assim possuído em minha mão, como um passarinho encurralado, colava a minha traqueia na tua, e a minha aorta ao teu coração.
Estrelinhas. Frias, pálidas, luzindo. Enfeitando como delicadas pérolas o manto do céu. Faróis minúsculos cintilando no preto oceano. Caracolinhos encaracoladinhos brilhando no escurinho.
E a lagriminha descendo sozinha a colina, com sua trouxinha de passado às costas.
sexta-feira, fevereiro 16, 2007
O Lavar das Tripas
É incrível como em 1h a minha opinião mudou drasticamente. Percebo agora que pior do que ter tolerância 0, é haver outras caras que já captaram os teus olhos. Mentes brilhantes, cultas, com os teus gostos. Captaram-te pelo cordão umbilical, pela raíz. E tu não as consegues deixar mais.
Mas eu ... meros segundos terei captado a tua gargalhada e apenas. Por isso tu escorres facilmente entre os meus dedos. E já não voltas.
É tudo uma grande bola platónica e teórica que mete nojo, é verdade. Mas quero lá saber, o blog é meu.
Por isso mudei de ideias. Para quê imaginar os teus olhos dentro de mim, cravados entre os meus tecidos e o meu sangue, se tu já me lavaste? Lavo-te eu agora...e a água que fique suja em vez de mim. Darei início à expurgação, embora espere e queira vacilar.
Dependência: Muita
bucéfala, s. m. género de aves anseriformes da família das anatídeas.
buço (Lat. bucceu) , s. m. bigode pequeno; bigode incipiente; parte constitutiva da rede de saco chamada cabeceira.
Já chega de obsessão pela entrada buc e buf do dicionário.
Cheira a bufa lá no laboratório de análises, que mais parece uma arrecadação. Porque é que eu desconfio sempre das velhinhas?
Enquanto olho para um sr. careca a tocar Carlos Paredes, no programa da manhã da rtp1, ele estrebucha, ele parece que tem rendas nos dedos.
Vejo que o Carlos Paredes e a Christina Aguilera têm algo em comum: as gaivotas. Um gaivotas nas mãos, outra gaivotas na voz.
Não me apetece falar com pessoas, apetece-me comê-las. Não é "comê-las" é comê-las mesmo. Começar pelos olhos (pelos teus olhos) engulidos, esmagados contra o céu da boca, apertados entre as amígdalas, afogando-se na saliva, conhecendo na descida a minha faringe, o meu esófago. Penetrando o estômago, boiando em ácido, levando pancada. Ahhhh conheçe o meu estômago. Vê o que tenho cá dentro. E eu já não preciso de falar. Contorce-te no duodeno, sofre com a minha bílis. Cega, cega tu que eu já estou.
Marcus C. Stone
quinta-feira, fevereiro 15, 2007
A Inaudita Guerra da Migalha
E sentir que os passos seguem embrulhados em celofane. Que a cancela do mundo ainda está por abrir. Que os pés deslizam nus e protegidos, mas desalentados. Onde não há frio não há fogo. Sem formigas, não há açúcar. E as abelhas moram para lá, depois de lá. O mel só o imagino, de amarelo, quando ele é encarnado.
Quem sabe o mar me engula e me ensine a nadar afogando. Quem sabe essa floresta cinzenta esteja mais perto do que eu imagino. E eu quero-a. Preciso dela para não ter só um metro e sessenta. Quero sem saber o que é mas o que parece, e por isso quem sabe o tiro seja maior do que espero e peço.
Quem sabe as palavras salvarão o início. Quem sabe as palavras querem que eu saia por elas mas eu não as deixarei sair.
Para quando conhecer o deserto do mundo? Para quando provar os espinhos da Terra?
Para quando amanhã, falar contigo e começar tudo?
quarta-feira, fevereiro 14, 2007
sábado, fevereiro 10, 2007
a manhã arregaçando a noite,
os raios desfraldando o sol,
as nuvens almofadando o azul.
Penso em ti,
na promessa de ti
E depressa a chuva cai
Deformando a luz
Por dentro do que olho.
Há sempre a promessa de ti
Chorando as cortinas
do dia.
Tropeçando no escuro
Soluçando em branco,
Desaguando,
entre o frio
e o desencanto.
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
As Palavras
As palavras
São como um cristal,
Algumas, um punhal
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta?
Quem as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
Há palavras que nos soam mais deliciosas que as outras; mais doces, mais harmoniosas, mais agradáveis;
mais especiais.
Decidi partilhar algumas dessas palavras que são, para mim, particularmente belas. Todas pela sonoridade, quase todas pela encantadora conjugação significado-sonoridade (i).
Espero que deixem a vossa língua sentir-lhes lentamente o relevo, apreciando-as letra a letra.
dissidente (embora prefira o inglês dissident) - (Lat. dissidente), adj. e s. m. e f. que o a pessoa que diverge da opinião de outrem; discordante; que se separou de um grupo religioso ou político por divergir da opinião geral; cismático.
lupanário - adj. relativo a lupanar - (Lat. lupanar), s. m. casa de prostituição; bordel; alcoice; prostíbulo.
(i) resvaladiço - adj. escorregadio; íngreme; (fig.) perigoso.
(i) lascívia - (Lat. lascivia), s. f. sensualidade; qualidade de lascivo - (Lat. lascivu, saltitante), adj. sesual; libidinoso; devasso; lúbrico; bricalhão; travesso.
(i) luciluzir - v. int. lucilar; tremeluzir; luzir espaçadamente.
(i) jactância - s. f. defeito de se gabar com exagero; arrogância; alarde; bazófia; amor próprio; soberba; ostentação.
(i) necrotério - (Gr. nekrós, cadáver + térion, indicativo de lugar onde), s. m. lugar onde se expõem os cadáveres para serem autopsiados ou identificados.
(i) flabeliforme - (Lat. flabellu, leque + forma), adj. flabelado - (Lat. flabellatu), adj. em forma de leque.
(i) cirandar - v. tr. passar pela ciranda; joeirar; peneirar; v. int. (fam.) andar de um lado para o outro; dançar, cantar ou tocar a ciranda - (Ár. saranda, crivo), s. f. peneira grossa, com que se joeiram os grãos , areia, etc.; dança e descante popular.
quarta-feira, fevereiro 07, 2007
A Alma. Talvez a presença transparente de alguém no banco, ao meu lado. Sustendo a bola do mundo. E de mim, o fumo. Ignoram-me de bronze os corpos mortos, no jardim. Há neles mais vida do que em mim. Vibrando com a frenética esfera dourada, celebrando o sol.
A Contra Alegria. O vento arfando o silêncio, descorando o rosto. O sossego de alguma coisa diluída, nos meus olhos. O frio lambendo o chumbo, a minha boca. A Alegria. Pendurada, de manhã, no infantário. Tinha fitas no cabelo bordadas, pela mãe. Tinha camisolas de Inverno também. Tinha flores antes do almoço. E a água sabia a gelatina.
O Vácuo. Ranger de folhas secas nuns pés cortando a fio. Um tiroteio guinchando o estalo do mundo. A Surdez. Nuvem sôfrega, abocanhando algodão. O Silêncio. Restolhar de folhas, chorando os mortos. A Morte. Garganta espessa engolindo.
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
A Guerra
Para largares na tua poça lamacenta
A nadar de olhos rombos,
Pesando o sangue.
Quero estraçalhar-te a boca,
Pô-la surda e deformada
e queimar-te as mãos de golpes.
Quero ver a morte mastigando-te
o corpo infantil,
cuspindo-o estuprado
no silêncio.
sábado, fevereiro 03, 2007
Que faz aí meu sorriso?
Enlaçado nos teus passos,
Costurado ao teu casaco,
Desfilando por teus braços
Que faz aí meu contentamento?
Aninhado ao teu pescoço
Crescendo completo em teu abraço,
Ajeitando o coração em alvoroço
Que faz aí minha tristeza lassa?
Marchando euforia ensaiada,
Disparando palavras sem signo
Esburacando, esburacando, esburacando
Seus vermes à noitinha
Que faz aí minha inércia?
Erguendo o roxo de um lírio
Denso e profundo,
Seguro em desiquilíbrio.
Alguém partindo querendo a volta
Quebrado ao vício do delírio.
quinta-feira, fevereiro 01, 2007
Pôr esta era inevitável ! :)
Encontrei este casal algures pela net ... oferecendo sexo selvagem e drogas a todo o ppl do bem, do peace & love!
Fiquei tentada a conhecê-los, mas tive medo de viciar-me neles ... Acham que há motivos para isso? :)
segunda-feira, janeiro 29, 2007
- 1..2...experiência, som... som, experiência... (pigarreia para clarear a voz). Bom, então o que nos queria dizer a senhora?
- Errr... eu... (envergonhada) ... eu só queria dizer, quer dizer... era mais pedir ... era... era pedir que... bem.... err.... que me comessem! A modos que peço que todo o homem que se sinta um Hannibal Lecter sexual, faça o favor de se dirigir aqui a isto, ao balcão das informações!Obrigada!
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Recebo uma sms. Ao responder quero dizer Tenho de deixar de ser tão preguiçosa, mas apercebo-me que escrevi: Tenho de deixar de ser tão perigosa...
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(Eláá, ééé lecas, o que é aquilo?). Elevando-se nas escalas rolantes, emerge uma cara absorvente, cabelo ondulado escuro e quase pelos ombros, cara meio redonda, com um sinal algures perto da boca. Quando lhe vejo o corpo e o andar a legenda que surge por baixo é sem dúvida: "David Fonseca ligeiramente cocho".
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Siempre que te pregunto, que cuándo, cómo y dónde, tú siempre me respondes:
quizás, quizás, quizás...
Y así pasan los días...
(Confessa-me o Nat K.Cole)
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Antes disto tudo, há dias, tive medo quando ouvi o Thom Yorke cantar: Just 'cause you feel it doesn't mean its there...
Rasgou a névoa de horas idas,
Mais uma vez o antigo sentimento
Ressuscitou em brancas cinzas,
O linho dos sonhos recordado
Transluz ao sol depois da chuva,
Encosto fielmente ao parapeito
A minha cara apagada e batida
Cheira a limpo, cheira a terra
Teus fios de cabelo abalam com o vento…
… E eis que o céu se entristece
E se encolhe acanhado com a terra,
Mais forte agora é o mofo ameno
Que sinto esvair assustada da serra
Para sempre, a face mal enterrada
Teus fios de cabelo expiram sem tempo …
E brancos partem na negra galera …
O frágil linho tecido por dentro
Sobrevive num tear humano poeirento
Encostado ao parapeito sem lida
Aprendo a fadiga da vida
E os olhos sós, suspiram, cansados
Brisas que outrora houveram…
…O antigo comboio desfeito em tábuas
Range e vai com a dor, da minha pouca terra
Pouca terra
Pouca terra
de amor…
sexta-feira, janeiro 26, 2007
Dentro de uma Igreja
- Chiuu
- Mãee
- Chiu!
- Onde tá o Jesus?
- Ali
- Na cúz?
- Sim
A criança tosse, estava constipada... mãe e filho saem, ainda ouço lá fora:
- Já tá?
- Já
- Já tá?
- Já
- Já tá?...
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Passado horas saio da faculdade e sinto-me mergulhada na personagem principal de um filme sinistro.
Sozinha, no escuro, deparo-me unicamente com as luzes que saem de algumas janelas do c8, fitando-me do edifício imponentemente negro, como olhos misteriosos. Ouço a voz rouca e melancólica cantando "Simple Things" enquanto atravesso o frio chão de painéis de cimento. Ao dobrar a esquina encontro o vento cortante e o negro gelado. Não havia luzes. Os candeeiros do caminho que tinha de percorrer estavam todos apagados. Parei. Fiquei segundos a apreciar, segundos a ter medo e segundos a pensar o que faria. (Vou esperar que apareça alguém a sair, para colar-me aos seus passos e sentir-me acompanhada). Ao fundo surge um estudante e eu começo a andar rápido para o apanhar. Desci as esacadas e alcanço a estrada. Por trás estava um carro com os faróis ligados e quis o guião do filme que ele começasse a andar numa marcha mais lenta que a minha, sempre por trás de mim, a iluminar-me gentilemente o caminho em frente. No final da rua decido olhar de novo o meu misterioso benfeitor. Confirmei que era uma rapariga (obrigada!). Agora tinha a longa calçada, presidida pelo museu da cidade, para atravessar. Apesar de um cantinho de medo, eu sentia-me numa bela sala a deliciar-me com uma nova perspectiva sobre aquele caminho de sempre, que eu julgava já não poder trazer-me nenhuma novidade. (Pingo Doce: Onde os preços são mais baixos 20:00, 11ºC). As letras luminosas bem no alto são as únicas estrelas da noite. Nem reparei no susurro bruxo e cúmplice das árvores, mas sei que esteve lá.
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- Pena, tu usas estes pensos não é? - diz-me ele apontando a marca "Tena Lady" e estalando em gargalhada.
- Não! Eu uso mais estas fraldas aqui à frente! - retribuí - E tu gaja, o que usas? "Carefree" n é?
- Oh Pena...
Escassos minutos de excursão depois...
- Ahaha, para que é isso? Estes gajos são loucos!
- Isto? Isto são 252 maneiras de te masturbares e isto é...
- Mas aqui está escrito "252 maneiras de ganhar um jogo de xadrez" ...
- Não! Tu é que não sabes ler! E isto é uma foice para te matar e ele trouxe esta caixa para pormos os bocados do corpo dela, quando os cortarmos!
- Ahhhh, ok!! (isto não é normal!)
- E este livro aqui?
- Errr.. ah isto é 1001 maneiras de lavarmos as mãos depois de vos matarmos
- Ahahahah - ri-se o cúmplice maquiavélico, segurando uma grande caixa plástica.
- Ok! Ao menos escolheram uma caixa com tampa cor-de-rosa, obrigada
Escassos segundos de excursão depois ... já na caixa para pagar ...
- Pena, Pena! Pagas-me isto aqui se faz favor?
- Sim, tá bem - respondo reparando que é comida para piriquitos ... ou não? Não, era para..
- É para dar de comida à minha rata!
- Ehehehe! Ahahah! - ri-se o cúmplice maquiavélico novamente
(Isto não é normal! penso eu pela milésima vez, sorrindo:)
_______________________________________________
Dia 28, Domingo:
Escrevendo estas palavras no blog, penso...
Como há tantas Igrejas sagradas!
segunda-feira, janeiro 22, 2007
Duas categorias e tá tudo dito sobre ♂
a) Apaixonam-se pelo físico, procuram-nos porque precisam de apoio ou querem dar uma queca.
b) Apaixonam-se pelo intelecto e pelo que a rapariga, mulher, whatever, é mas depois são uns enconados (peço mil desculpas pela expressão) e não têm iniciativa!
Há umas variantes: uns são a) e querem parecer b) enquanto outros são b) e querem parecer a)!
Ora dadas estas duas categorias, a minha alma gémea ainda está para vir porque eu queria alguém b) que tivesse a pujança de a)! No fundo o que eu queria mesmo era um Pilósofo! Entendam como quiserem...eu cá tenho a minha interpretação!
Onde estão os Pilósofos?
Haverá uma terceira categoria?
Existe em Odivelas, na Fcul, em Portugal, ou terei de ir à Patagónia?
sexta-feira, janeiro 19, 2007
O que é que me vais oferecer no dia 14 de Fevereiro?
Declaro aberto o concurso:
quinta-feira, janeiro 18, 2007
Deus, o que sinceramente penso dele
E venha filosofia
teologia que farte
o que se pense de Deus
é só de Deus uma parte
Dizendo que é só amor
fazes Deus menor que Deus
cercas o ilimitado
dos limites que são teus
Agostinho da Silva
Este foi um dos mais acarinhados filófosos portugueses do século XX. Também poeta e ensaísta, afirmava a liberdade como a mais importante qualidade do Homem.
Obrigado Agostinho da Silva.
Mais quadras de Agostinho da Silva : http://www.arte-sempre.net/wpespiral/?p=40
Biografia: http://www.instituto-camoes.pt/cvc/filosofia/1910h.html
Mal Amada
quando todas as manhãs
acordas ao meu lado...
É que eu já não posso mais
partilhar os rituais
É tudo tão igual
Não me ames por favor
Que eu sou mais feliz
Que viver acorrentada
Foi coisa que eu nunca quis
Mais vale ser mal amada
É o que o coração me diz
Já não sei há quanto tempo
os teus olhos não me vêm
apenas passam por mim
É intenso este vazio
já não sei o que fazer
esta noite o amor partiu
sem sequer adeus dizer
Não me ames por favor
Que eu sou mais feliz
Que viver acorrentada
Foi coisa que eu nunca quis
Mais vale ser mal amada
É o que o coração me diz
Não me ames por favor
Que eu sou mais feliz
Que viver acorrentada
Foi coisa que eu nunca quis
Mais vale ser mal amada
É o que o coração me diz
Mafalda Sachetti
Música sublime!
quarta-feira, janeiro 17, 2007
terça-feira, janeiro 16, 2007
segunda-feira, janeiro 15, 2007
Hoje vi pessoas!!!
sexta-feira, janeiro 12, 2007
Gosto de árvores, mas ninguém me diz que sou boa rapariga por isso! Mas se fizer uma festinha a um cão ou disser : "oh, que bonita criança" já sou uma gaja sensível e carinhosa, que vai ser uma boa mãe!
Pois bem há dias em que não gosto de cães nem de crianças! Tou farta de ouvir todos os dias o bebé da minha vizinha a berrar e de ver cães a receberem mais festinhas do que eu!
Em contrapartida idolatro árvores, árvores, árvores, porque não chateiam, calam e ouvem. São sempre reconfortantes e transformam o lugar mais cinzento no mais resplandecente. Nunca me criticam, nunca me acusam. Como a sua resposta é o silêncio, admito que me compreendem e isso enche. São os seres vivos mais pacientes que conheço, e isso é uma qualidade fundamental para lidar comigo...
Qualquer dia passo a já não saber falar com pessoas, porque já só quero falar com árvores!
quinta-feira, janeiro 11, 2007
segunda-feira, janeiro 08, 2007
Deus!!!!!! Ah.....
Reza a história que lhe ouvi contar
Todas as noites chamo Deus para dentro
Todas as manhãs ele sai para vadiar
Parece que na sua imensidão se perdeu
E saiu da terrena órbita infernal
Consta que decidiu pousar para um anúncio
De uma mui respeitada estância termal
Lá para os lados da Cassiopeia,
Aquela que saiu com o Apolo
E apareceu de barriga cheia!
Aproveitou para uma massagem e um chá com vista para o céu
Mas recusou a volta de boleia.
É que um Buraco Negro vinha a caminho
E ofereceu-lhe o lugar do lado
Mas Deus deu logo a piada babosa “Deixe estar!
Para buracos já me chega o do Orçamento de Estado!”
Deus é a maior e mais importante entidade
Fez o amor e os passarinhos, as flores e os coisinhos
E tudo aquilo que ao pensar me faz ter vontade
De chamar o Gregório para apreciarmos juntos a beleza
Ele é grande, Ele é fashion (não usa suspensórios) e sabe sentar-se à mesa
Concerteza! Desde que não sejam treze Deus come tudo e não deixa nada
Ficou traumatizado porque aos treze lhe comeram a namorada!
Ah, hoje pedi a Deus que a Guida não visse isto!
sábado, janeiro 06, 2007
Eu queria emigrar para um país cheio de árvores
Sentir nos pés a areia do descanso e no cabelo a ausência de pensamento.
Partir porque isso significava deixar para trás os Invernos e a lama
Chegar a um destino ensolarado pleno de florestas virgens
Perfumar o meu corpo de ramagens e vestir-me de árvore ao pôr-do-sol.
Eu queria ir para esse mundo onde o medo não me afronta
Queria ver rapazes amarem raparigas
A calma apaziguar os corpos e o suspiro leve do vento embalar os corações.
sexta-feira, janeiro 05, 2007
Basicamente estou empalhada. Levanto-me, faço xixi, e coloco-me de molho em fermol (perdão, álcool, que fermol é cancerígeno) em frente ao pc. E que bela vidinha. Levanto-me para comer e passo pelo wc, afinal já tou há 5 horas a tentar dialogar com o logótipo do google e tenho necessidades para fazer.
Aiiiiiiiiiiiiii
Mariposas!
Não sou paranóica, nunca lhes liguei muito, não sou daquelas miúdas que coloca borboletas e lacinhos em tudo quanto é sítio. Isso até me dá um certo enjoo cor-de-rosinha. Mas desde este Verão que olho as borboletas de outra forma. Elas vêm ter comigo. Corrijo: elas vêm contra mim, não passam por baixo, nem por cima, nem de lado. Vêm contra mim.
Ok, podia ser das cores berrantes que às vezes uso, afinal há quem me chame escandalosa. Mas mesmo quando estava tão sombriazinha elas vinham como balas delicadas.
Cogitei (uau) a possibilidade do meu cheiro as atrair e entontecer (por ser muito bom) e isso podia explicar aquele voo trémulo desenhando os suspiros do vento. Mas essa hipótese foi logo posta de parte, porque me apeteceu.
Então percebi. As mariposas têm algo para me dizer. Elas passam, suavemente, parece que o tempo pára quando elas roçam, quase ouço. Quase ouço ... Eu sei. Elas têm algo para me dizer mas não percebo se elas passam demasiado rápido, se eu não ouço bem, se elas são tímidas, se eu é que sou demasiado tímida para acreditar. A verdade é que eu sei, porque sinto, elas têm algo para me dizer.
De cada vez que elas vinham comecei a desviar-me, não fossem as pobres desfazer-se embora eu desconfie que elas até iam gostar. Parecia que vinham entregar-se de livre vontade à morte (não gosto de falar disto, fico logo com uma lágrima no canto do olho).
Bom, hoje pensei que era desta, que aquela mariposazinha ia demorar-se um pouco mais, vinha tão entornada, meio inclinada. Ali estava aquele ser fantástico, sobrenatural, destinado a entregar-me a mensagem preciosa que iria ajudar-me a perceber tudo o que existe. Aproximou-se e aquele momento foi quase um orgasmo...ela ia dizer-me o que todas as outras houveram tentado! Bateu-me, quase caí do passeio. Desviei-me, e ela demorou-se colada a mim, pegada, quase ronronando por um miminho ... Eu estava no auge durante aqueles intermináveis segundos onde pura e simplesmente não foi emitida qualquer mensagem. Passou, já estava atrás de mim, eu já estava atrás dela, esquecida de novo. Ah... aquela cabra! Com aquele porte tão frágil, aquela corzinha débil, ali a bater-me como a querer acordar-me, a querer atingir-me, a querer chamar-me. Cabra, e não me diz nada. E eu a pensar que as borboletas são seres superiores, enviados dos céus, para me darem um sinal qualquer. Hei-de estrangular-vos, torturar-vos até sair daí essa conversa! Retirar lentamente cada asinha, cada patinha, cada antenazinha!
Até lá quem sofre a tortura sou eu, só penso nisto, o quem terão elas para me dizer? Decidi que o assunto era urgente e de extrema importância e que a época de exames podia esperar perante esta situação. Vou descobrir este mistério, e este semestre fica para segundo plano. Falei com os meus pais, disse: "Pais, as borboletas têm algo para me dizer, vou esquecer a época de exames e dedicar-me a este assunto"
Eles responderam: "Ok"
Parece-me bem.
que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,aconchegada
nos meus braços, que rio e danço
e invento exclamações alegres,
porque a ausência,
essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim'.
Carlos Drummond de Andrade
Epá um dos meus poemas preferidos de sempre. Coisa mai linda!
... pela Inquisição
Ah, obrigada.
Poema de Inverno
partiu para mais longe ainda:
só o tempo justo para fazer
das águas dormentes do meu trôpego
coração
um rumor de sílabas matinais.
Como toda a gente que partilha
com a luz a sua vida
era muito inocente, trazia do local
onde nascera
o ardor das coisas do mar.
Não sei de alegria tão pura
como a que morava nas molhadas
pedras dos seus olhos,
e baila ainda nas chamas
em qualquer lugar da casa.
Ao fim da tarde, o canto
do pequeno pássaro e o vento diziam
a mesma coisa: não deixes o incêndio
do deserto invadir-te o coração.
Sem que tu o suspeites, sequer.
Eugénio de Andrade in Os Sulcos da Sede
Retirei este poema de um blog que visitei recentemente ...
Agarrou-me especialmente a última estrofe como se estivesse a ler o que estava escrito dentro de mim. Não quero deixar que o incêndio do deserto invada o meu coração, sem que eu o suspeite sequer.
quinta-feira, janeiro 04, 2007
Dançar na promiscuidade da incerteza
Meditar no sentido disto, da vida, talvez não faça sentido nenhum, talvez faça todo o sentido. A verdade é que ela não existe. Tudo é um grande não saber, um grande talvez, uma grande hipótese. Quem sabe tudo o que sabemos são apenas hipóteses à verdadeira realidade que na realidade não conhecemos. Pensar nisto é embarcar numa dança sem passos ensaiados, sem destino, onde as surpresas surgem na expressão do nosso corpo. Num Universo tão promíscuo de dúvidas, de interrogações, de inquietações, ter certezas pode ser uma fortaleza ou uma fraqueza. Se não virmos um propósito em tudo isto, a vida perde o valor e nós perdemos a vontade nela. No entanto, o nosso propósito pode ser não haver propósito nenhum e isso pode enlouquecer-nos … ou pacificar-nos.
As incertezas podem assustar-nos ou simplesmente libertar-nos.
E eu adoro dançar.